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Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

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O presente relato merece ser retomado, mesmo já tendo sido tratado nocapítulo anterior, pois mostra o que está em questão nesse momento, ou seja, odiscurso descritivo, pormenorizado do momento que antecede o uso da droga. Opaciente, em questão, produz tal discurso após ter vivenciado uma “recaída” e, emseguida, retorna à clínica de reabilitação, a fim de dar continuidade ao tratamento.Consideramos que, muito mais do que uma significação ou sentido dado à droga, édemonstrada a necessidade de explicitar, através de uma descrição minuciosa, apura experiência sensível vivenciada antes, durante e depois do abuso dasubstância. Por isso, questões como: “O que a droga representa em sua vida? Porque você usa drogas?” tornam-se impróprias e inoportunas já que o toxicômanoainda não está em condição de responder a isso, o que pode provocar apenasangústia, ou uma resposta que, embora sincera – “Não faço a mínima idéia!” – nãoleva a nada. Em alguns casos, como saída, nesses discursos, eles se reportam aanalogias, a fim de expressar o puro afeto, tentando se aproximar daquilo que estáno campo do irrepresentável:[...] A vontade de usar droga é uma coisa... (suspiro) que vem lá do fundo!Uma coisa que... quando você está na ativa, você não consegue barraressa vontade. A força dela na cabeça, no cérebro, no psíquico, no corpo éum aglomerado que você não consegue parar não. Em muitas situações deuso, não queria usar mais, por causa do sofrimento, mas a força dadependência é muito maior. Então você acabava usando. Então, não temjeito de descrever, assim, é até difícil... Fazia tempo que ninguém meperguntava essas coisas [...]. Mas era um negócio doido. E usava e queriausar. [...] (Entrevistado 2, grifo nosso).Para servir de paralelo aos dois discursos anteriores, poderíamos, buscar,ainda, uma descrição mais remota, presente na literatura do século XIX. Diz respeitoà figura de Charles Baudelaire que de maneira eloqüente descreve suasexperiências sobre o efeito sensorial do haxixe. Como bem demonstrado em suaobra, não se tratava de encontrar os porquês de tal busca intoxicante, mas de umatentativa de expressar o que estava para aquém das significações – a própriaexperiência sensível:Eis aí a felicidade! Uma colherzinha bem cheia! A felicidade com toda suaembriaguez, todas as suas loucuras, todas as suas criancices! Pode engolirsem medo, disto não se morre. Seus órgãos físicos são sofrerão nada. Maistarde, talvez, um apelo demasiadamente freqüente ao sortilégio diminuirá aforça de sua vontade, talvez torne-se menos homem do que é hoje; mas ocastigo está tão longe e o desastre é de uma natureza tão difícil de se138

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