25.08.2015 Views

Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O serviço prestado pelos veículos intoxicantes na luta pela felicidade e noafastamento da desgraça é tão altamente apreciado como um benefício,que tantos indivíduos quanto povos lhe concederam um lugar permanentena economia de sua libido (FREUD, 1930, p. 86).Estamos diante do primado do corpo e do império das sensações, em que otóxico é uma armadilha com o poder de criar uma volúpia instantânea eincondicional. Se a natureza do gozo é ser insaciável, os estados de dependênciamostram claramente como fica o sujeito quando entregue a ele:O desejo (gozo) (de sexo, de bebida, de comida e de dinheiro) é tal que sesubmeter a ele é mergulhar no abismo, entregar-se a um tirano sem meiasmedidas. A atração por qualquer objeto sensível está destinada pornatureza a não se saciar totalmente. Em busca de uma sensação deplenitude, procuramos poupar, armazenar, ingerir. Tornamo-nosinvestidores, colecionadores, gastrônomos, sedutores. E, entretanto,permanecemos vazios. Nunca contentes, uma vez que incapazes dereprimir. Nunca satisfeitos, porque, por mais que incorporemos, jamaisjulgamos suficientes o que incorporamos (SISSA, 1999, p.10).O que se vê retratado na dependência química são corpos desesperados,que correm fugazmente pela busca incontrolável de mais uma dose ou mais umgole. O problema do alcoolista, por exemplo, não está na primeira dose, como sepensa, a partir do slogan: “evite a primeira dose”, mas na última, que nunca éalcançada. O movimento de não-interrupção, que leva o sujeito a abandonar-se naforça da fissura é a dinâmica mais comum nos quadros de dependência grave e,inclusive, naqueles que dizem fazer uso de drogas sintéticas apenas de formarecreativa, como expresso no depoimento de um entrevistado: “Tem gente que ficadoze horas ao lado da caixa de som e não quer sair quando acaba” (Entrevistado01).Com isso, abrimos outra questão de relevância para nossa discussão.Sabemos que existe um movimento de transgressão envolvido na busca pelo tóxico,porém, a partir daí, nos interrogamos: trata-se de uma transgressão dos poderes dalei e da sociedade ou corresponde a uma transgressão dos limites naturais dopróprio corpo? Poderíamos, então, pensar em uma subversão que não estariaapenas ligada à imposição da lei, do social? Uma força psíquica que transgride, nãoobedece à tentativa reguladora do organismo, escorregando do domínio do sujeito?109

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!