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Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

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Ao levar um dos entrevistados a pensar sobre sua iniciação no uso dedrogas, coletamos um discurso que remete ao sentido de transgressão que estamostratando:[...] Dentro de mim vem a palavra limite. Eu nunca aceitei limite. Eu sempretransgredi, por causa da minha liderança. Eu tenho liderança fácil. Tenhouma capacidade relacional muito fácil. Era transgredir a mim mesmo, eu iaaté onde eu pudesse transgredir meu próprio corpo. Nesses últimos usos,era assim mesmo, transgredir o máximo... a minha percepção, a minhailusão, o meu raciocínio. Sem medo de nada, só medo de levar um“baculejo” da polícia. [...] (Entrevistado 23, grifo nosso).Na literatura sobre toxicomania há autores que enfatizam a impossibilidadede internalização da lei, da ordem, pois o sujeito vê-se impulsionado a obedecer auma força maior e imperativa. Ou seja, a simples vontade de experimentar “umbarato” transforma-se em ordem imperativa de satisfação. Contudo, o relatoapresentado acima sinaliza que há uma lei imposta, um “medo da polícia”, mesmofrente à tentativa de subvertê-la, todavia o que ganha relevância neste discurso é anecessidade de transgredir os limites do próprio corpo e da própria natureza. Umavez capturados pela dependência, tornam-se escravos do efeito intoxicante da drogae “vítimas” de suas conseqüências marginalizantes no contexto social. Diante disso,afirmamos que a dependência química é um fenômeno que nivela ricos e pobres;letrados e analfabetos; homens e mulheres, todos em uma desenfreável busca poruma sensação específica, um “a mais” de gozo, uma espécie de extrapolação.Entre outras características, o toxicômano, o drogadicto, o dependentequímico, o farmacodependente é um sujeito disposto a reduplicar a suaalienação em função de um tipo especial de jogo com o prazer que brincaperigosamente com a pulsão em estado nascente. Isto é, aquém dequalquer significação simbólica associada ao uso de drogas, o toxicômanoconstrói um curto-circuito entre a fonte biológica da pulsão e a produção deum peculiar imaginário onde a satisfação existe tal e qual o encontro doobjeto da necessidade. É um sujeito que se ‘instintiviza’. Isto é, busca umavia de relação com o mundo e um saber que supõe a palavra em segundolugar (NOGUEIRA FILHO, 1999, p. 26).“O sujeito que se instintiviza” parece abrir mão da ordem social, em favor darelação que se retroalimenta a cada encontro com a droga. Isso é perceptível nosdiversos contextos sociais, como, por exemplo, na família, onde o lugar dotoxicômano é o “não-lugar” e sua palavra é de “não-valia”. Ao falarmos em lugar, na110

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