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Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

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casa, então eu fiquei na casa do traficante. Engraçado, que o traficante, dormia,acordava, tomava banho, comia, e eu continuava usando no mesmo lugar. Eulembro que na primeira noite, eu cheguei lá no final da tarde, olhei no relógio era 11horas e quando eu vi, já era 11 da manhã. E eu lá, consumindo. Tinha muitaneurose (paranóia). Tinha uma certa alienação, pois não dava tempo de pensar, etinha muita autodestruição, eu estava me matando. Ele tinha comprado muitosmaços de cigarro, pois o crack se fuma com a cinza de cigarro. De vez em quando,ele chegava e perguntava: “E aí, estava precisando de alguma coisa?”. E, já jogava10 pedras de crack, 20 sei lá e dizia: “toma aí, depois tu me paga”. Houve até umamanipulação por ele. Eu parava, ele dava mais, então não tinha como parar. Eucheguei até no meu limite físico. É tanto que no final, eles me deram um cigarro demaconha para eu conseguir ir para casa. Mas não consegui. Saí da casa dele, deialguns passos e tive um “apagão”, eu apaguei. Eu acordei na casa do traficante,com um ventilador voltado para mim, e ele mandando eu comer alguma coisa. Oengraçado foi a sensação do “apagão”: eu lembro que primeiro começou a falharminha audição e depois começou a falhar minha visão, e aí eu apaguei. Naquelameia hora, era como se eu estivesse no nada. Eu não sei o que aconteceu. Foimuito esquisito. Quando eu acordei eu comi alguma coisa e fiquei por lá, não tinhacondição de andar. No outro dia quando eu acordei eu já fui pedir mais droga. Écomplicado. No finalzinho do meu consumo intenso eu cheguei a me flagelar e tenteime cortar. Acho que não foi uma tentativa de suicídio, foi flagelação mesmo. Achoque foi o ápice do meu consumo, e aí eu disse: chega!Onde você localiza o prazer que o crack te dava?Acho que o único prazer foi o desaparecimento da dor, pois não dava para pensar. Asensação é terrível, a neurose é terrível, o medo é terrível, mas tudo aquilo eraocupado por um sentimento muito ruim. Eu tentei usar droga para tentar amenizaraquele sentimento, mas acho que o consumo da droga foi tão ou “mais ruim” do queaquele sentimento. Foi aí que eu comecei a usar sem parar.Tem uma imagem que é um trágico-cômico. Ele tinha um travesseiro daquelesamarelinhos. E eu lembro que uma vez ele começou a jogar no chão, e eu achandoque era pedra de crack né, e ele rindo da situação, como se fosse um animal. Issofica marcado na minha cabeça.Mas se a “nóia” era tão ruim, por que as pessoas se mantêm fazendo uso?265

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