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Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

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em que não exige trabalho psíquico para atingi-la, não respeita o tempo necessáriopara o desenvolvimento da Vorstellen (processo de pensamento) – condiçãoessencial para lidar com a “fissura” da droga. Como nos apresenta Aulagnier (1985,p. 152):Se continuarmos no registro do pensamento, diria que a toxicomania é umcompromisso entre: o desejo de não mais pensar a realidade e a recusa oua impossibilidade à reconstrução delirante desta realidade, ou ainda, atoxicomania é um compromisso entre o desejo de preservar e o desejo dereduzir ao silêncio a atividade do pensamento do Eu.No início do uso o prazer apresenta-se como irrestrito e, dado àcontinuidade, o toxicômano experimenta uma sensação “eternizante”, que só éabalada quando a droga não responde mais aos ideais de satisfação, razão pelaqual ocorrem trocas sucessivas por substâncias quimicamente mais potentes. Alémdisso, o ato de intoxicação, especialmente no abuso de drogas estimulantes,corresponde simultaneamente a uma demanda de excitação e alívio dos estímulos.Como vimos, é como se a droga fizesse o papel de um anestésico contra a angústia,fruto do acúmulo da estimulação endógena. A primazia da sensação, no corpo dotoxicômano, questão central de nosso trabalho, pôde ser evidenciada nos diversosdiscursos apresentados e discutidos no quarto capítulo. Consideramos ser esta umadas principais contribuições para a compreensão da dinâmica desses pacientes: sehá uma dependência ao objeto droga esta é provocada pela primazia da sensaçãoque governa a vida e o corpo do toxicômano, razão pela qual ele se vicia. Essaforma de ver o fenômeno, no nosso entender, apresenta um viés diferente ocomumente encontrado na literatura sobre o tema, pois põe em realce, primeiro, abusca da sensação, ou seja, é porque na dinâmica psíquica de determinadossujeitos a sensação se sobrepõe ao sentido que eles buscam um objeto que causeisso. É mais comum se pensar que a experiência da droga desperta uma sensaçãoque leva o sujeito a repeti-la, ao mesmo tempo em que tal objeto faz suplência auma falta.No que tange ao aparato técnico da clínica com toxicômanos, é validoressaltar a crítica feita àqueles que buscam ouvir do sujeito, já no início do trabalhoterapêutico, a significação e o sentido do uso de drogas, haja vista que talprocedimento além de não condizer com a “demanda” apresentada pelo dependentequando na procura de um tratamento, reflete um desconhecimento da dimensão do156

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