25.08.2015 Views

Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

definir! Que riscos você corre? Amanhã um pouco de cansaço nervoso.Você não corre o risco todos os dias, dos maiores castigos porrecompensas menores? Desta forma, está dito, para dar-lhe mais força eexpansão, você chegou até mesmo a diluir sua dose de extrato gorduroso(de haxixe, grifo meu) em uma xícara de café preto; tomou o cuidado demanter seu estômago livre transferindo para nove ou dez horas da noite suarefeição substancial para dar ao veneno toda a liberdade de ação; nomáximo, dentro de uma hora, você tomará uma sopa leve. Você está agorasuficientemente lastreado para uma longa e extraordinária viagem(BAUDELAIRE, 1998, p. 23-24).Os discursos se coadunam na tentativa do toxicômano de se aventurar pelouniverso da palavra e expressar o que lhes parece mais próximo da vivênciaintoxicante. A busca de sentido, tão presente no movimento da clínica e almejadapara a cura psicanalítica, representa, em alguns casos, a chave de uma análise bemsucedida; no caso dos toxicômanos pode representar uma barreira ou umimpedimento. Como diria Duparc (2001, p. 46): “O analista de hoje, assim como ocientista, não renuncia com tanta facilidade a tornar representável o que é a prioriinacessível”. Ocorre que em certos casos, o caminho é longo e tortuoso, e issorequer que analista abandone o dispositivo clássico. Observamos que este foi ocaminho encontrado para tornar possível a análise com psicóticos. Na toxicomania énecessário que o analista possa “ouvir de outro lugar”. Como nos indica NogueiraFilho (1999), muitos psicanalistas apostam que a toxicomania, diferente das formasde neuroses que conhecemos, não diz respeito ao retorno simbólico do recalcado,mas caracteriza-se por um fenômeno que não produz saber, o saber sobre o sujeitodo inconsciente. É, nesse sentido, que somos convocados a repensar nossasferramentas teóricas, já que ainda estamos voltados para os modelos da neuroseclássica.Na clínica das intensidades, diríamos que as palavras não deixam de existir,todavia não respondem ao sistema de significação, são expressões de um afeto e,desse modo, trata-se de um discurso que não estaria enquadrado aos moldes dapsicanálise clássica. Assim como na psicose, alguns casos de toxicomania retratamuma cisão com o simbólico, presente na fala esteriotipada do toxicômano, ao relatarsuas experiências a partir do efeito intoxicante. “Quando as qualidades de prazer edesprazer tomam a precedência, a linguagem perde seu cunho abstrato” (RUDGE,1998, p. 88).139

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!