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Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

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la. Um de nossos entrevistados, ao relatar sobre a importância da palavra em seutratamento de recuperação relata:[...] É de suma importância, né. Eu... quando cheguei na minha comunidade,onde eu fui internado, à uns 12 anos atrás, tinha uma reunião desentimentos, de partilha de sentimentos e eu cheguei bem no horário. E, naépoca, o coordenador disse assim: “Oh, tem que jogar para fora tudo aquiloque te machuca”. E eu tinha algumas coisas que me incomodavam, coisasdo meu pai alcoólatra bater na minha mãe, e logo na seqüência, eu já jogueiisso para fora... e me fez bem demais da conta. E depois daquilo eucomecei a jogar pra fora tudo aquilo que me pega, que me pegava, que mepega, e até hoje eu sou assim. Agora, depois eu fiz terapia durante 5 anos.Então, qualquer coisa... Você ficar com aquele negócio te angustiandodentro do peito, o negócio vai te apertando e você não consegue falar comninguém... Acho que aquilo só faz mal. É um câncer que vai te matando pordentro. Pode nem ser sobre droga, mas qualquer tipo de sentimento, deemoção, se você não colocar para fora isso vai virando uma panela depressão e vai explodir. Então, para mim, isso é de grande valia. Quando eute falei no começo da minha história de adicção...quando você vai vendo,você percebe que fazia de pequenas coisas, grandes monstros. E essenegócio de jogar para fora, é de grande valia para o tratamento, é de sumaimportância [...] (Entrevistado 2, grifo nosso).A palavra é confeccionada em um processo de “jogar para fora”, ummovimento produtor de alívio, mas não, necessariamente, de sentidos esignificações. Vale, então, ressaltar que, é, justamente, esse discurso que o analistadeverá tomar, haja vista que é um precioso conteúdo de trabalho, contendo afetosque demandam um espaço de escuta, uma linguagem que se dá pela via do própriocorpo.A esse respeito, Nogueira Filho (1999, p. 32) propõe um importantequestionamento: “Qual corpo o toxicômano faz falar?”. O próprio autor se lança nosentido de nos oferecer uma resposta coerente: “Um corpo que se estimula sem queo significante marque o caminho por onde o gozo se significaria”. Em outraspalavras, esta explicação pode tratar da questão auto-erótica na obtenção desatisfação. No campo do desejo, sabemos que não há satisfação plena, masteremos uma constante busca, através do movimento incessante da palavra e dafantasia. Já a satisfação auto-erótica, ou em termos lacanianos, “o gozo” seconfigura pelo ato, o que, supostamente, possibilitará um acesso direto ao prazer.Compreendemos que é o significante, vez que fora instituído pelo desejo do outro,que possibilitará a diferenciação entre pulsão e a função orgânica do instinto. Noefeito da droga, estaria presente a ilusão de que o prazer não necessariamente141

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