Texto completo em PDF - Museu da Vida
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peça estrutural não é necessária na reportag<strong>em</strong>, que apesar de também ser um gênero<br />
informativo, pode ter, inclusive, uma parte inicial com estrutura de narrativa literária. Apenas<br />
para ilustrar, apresento como ex<strong>em</strong>plo de estrutura narrativa o início <strong>da</strong> reportag<strong>em</strong> “A<br />
história de uma marca”, de Neldson Marcolin, publica<strong>da</strong> na edição de outubro de 2004 <strong>da</strong><br />
revista Pesquisa Fapesp:<br />
100<br />
Dez mil dólares no bolso, uma mente fervilhante e alguns sócios. Com essas<br />
ferramentas, <strong>em</strong> 1958, João Augusto Conrado do Amaral Gurgel d<strong>em</strong>itiu-se <strong>da</strong> Ford<br />
do Brasil, um gigante <strong>da</strong> indústria automobilística, e começou a colocar de pé um<br />
projeto concebido quando ain<strong>da</strong> era estu<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> Escola Politécnica <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />
de São Paulo: fazer carros brasileiros. Contra todos os prognósticos, ele conseguiu<br />
(MARCOLIN, 2004, p. 10).<br />
As reportagens do corpus aqui analisado não iniciam com uma estrutura literária como<br />
essa do ex<strong>em</strong>plo acima, mas são singulares quando compara<strong>da</strong>s ao lide clássico que inicia a<br />
estrutura de um texto noticioso. O texto de Mônica Macedo, <strong>da</strong> edição sobre “Clonag<strong>em</strong>”,<br />
começa com a seguinte pergunta: “Quantos, hoje <strong>em</strong> dia, defend<strong>em</strong> a clonag<strong>em</strong> humana com<br />
fins reprodutivos?” Já a reportag<strong>em</strong> de Suzana Dias, <strong>da</strong> edição sobre “Brasil Negro”, inicia<br />
com uma afirmação at<strong>em</strong>poral, ou seja, que se refere não a um fato atual, como geralmente se<br />
faz na notícia, mas a um fato pertencente a qualquer t<strong>em</strong>po: “Preservar a m<strong>em</strong>ória é uma <strong>da</strong>s<br />
formas de construir a história”. Além disso, como observa LAGE (1982), a reportag<strong>em</strong> pode<br />
compreender desde a compl<strong>em</strong>entação de uma notícia – como é o caso <strong>da</strong> reportag<strong>em</strong> de<br />
Mônica Macedo, que contextualiza e aponta posicionamentos a partir de um fato atual (o<br />
anúncio do primeiro clone humano) – até a expansão que situa o fato <strong>em</strong> suas relações com<br />
fatos antecedentes, conseqüentes ou correlatos – como o faz Susana Dias <strong>em</strong> sua reportag<strong>em</strong><br />
sobre aspectos históricos, sociológicos e educacionais ligados à com<strong>em</strong>oração do Dia <strong>da</strong><br />
Consciência Negra. Portanto, apesar de os gêneros notícia e reportag<strong>em</strong> ser<strong>em</strong> ambos<br />
informativos, eles possu<strong>em</strong> suas próprias singulari<strong>da</strong>des e estruturas composicionais.<br />
Com esta dissertação, espero ter contribuído para os estudos sobre gêneros do discurso<br />
e sobre divulgação científica e, qu<strong>em</strong> sabe, suscitar novas questões tanto <strong>em</strong> pesquisas<br />
linguísticas envolvendo o discurso quanto pesquisas comunicacionais envolvendo o<br />
jornalismo <strong>em</strong> geral. Os pressupostos <strong>da</strong> Análise do Discurso foram fun<strong>da</strong>mentais para<br />
mostrarmos, <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> um dos capítulos deste trabalho, o caráter dialógico e o caráter subjetivo<br />
dos discursos (suas generali<strong>da</strong>des), e os teóricos do campo comunicacional serviram de apoio<br />
para apontarmos características próprias de ca<strong>da</strong> gênero (suas singulari<strong>da</strong>des). A escolha <strong>da</strong><br />
revista ComCiência como objeto de estudo serviu não apenas para reforçar a minha idéia