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Texto completo em PDF - Museu da Vida

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VIII – Entrevista: fronteira entre informação e opinião<br />

O texto que é conhecido no jargão jornalístico como “entrevista pingue-pongue” –<br />

como as que aparec<strong>em</strong> nas páginas amarelas <strong>da</strong> revista Veja – não é muito explorado <strong>em</strong><br />

textos acadêmicos enquanto gênero do discurso, talvez por se situar <strong>em</strong> uma certa fronteira<br />

discursiva difícil de ser delimita<strong>da</strong>. Autores como LAGE (1982) e ERBOLATO (1985)<br />

apenas mencionam a entrevista como técnica fun<strong>da</strong>mental do jornalismo para obtenção de<br />

informações. MELO (1983, p. 78) define a entrevista como “um relato que privilegia um ou<br />

mais protagonistas do acontecer”, e a classifica, enquanto gênero, na categoria do jornalismo<br />

informativo, o que, <strong>em</strong> parte, pode ser considerado um conflito com o que diz O Novo<br />

Manual <strong>da</strong> Re<strong>da</strong>ção, do jornal FOLHA DE S. PAULO (1992, pp. 31-32), segundo o qual “a<br />

finali<strong>da</strong>de de caracterizar um texto jornalístico como entrevista é permitir que o leitor conheça<br />

opiniões, idéias, pensamentos e observações ... de pessoa que t<strong>em</strong> algo relevante a dizer”.<br />

Esse mesmo Manual acrescenta que “pode-se editar a entrevista na forma de pergunta e<br />

resposta (pingue-pongue) quando o entrevistado está <strong>em</strong> evidência especial ou diz coisas de<br />

importância particular”. Como se trata s<strong>em</strong>pre de um personag<strong>em</strong> <strong>em</strong> evidência no seio <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de – seja ele um artista, um político, um cientista ou um <strong>em</strong>presário – o entrevistado é<br />

invariavelmente levado pelo entrevistador a <strong>em</strong>itir suas opiniões, idéias e pensamentos acerca<br />

do seu campo de atuação ou sobre assuntos considerados pelo veículo relevantes para o seu<br />

público leitor.<br />

O Novo Manual <strong>da</strong> Re<strong>da</strong>ção, do jornal FOLHA DE S. PAULO (id<strong>em</strong>, p. 32) observa,<br />

ain<strong>da</strong>, que a entrevista pingue-pongue “exige texto introdutório contendo a informação de<br />

mais impacto, breve perfil do entrevistado e outras informações, como local, <strong>da</strong>ta e duração<br />

<strong>da</strong> entrevista e resumo do t<strong>em</strong>a abor<strong>da</strong>do” – o que talvez seja suficiente para se dizer que esse<br />

gênero está na fronteira entre o informativo e o opinativo, além do fato de o entrevistado, <strong>em</strong><br />

suas respostas, não apenas <strong>em</strong>itir opinião, mas também informar sobre algo de que ele t<strong>em</strong><br />

conhecimento e o público leitor supostamente não t<strong>em</strong>.<br />

O texto introdutório de uma <strong>da</strong>s entrevistas seleciona<strong>da</strong>s para análise neste capítulo –<br />

“Justiça penal é mais severa com os criminosos negros” 22 , feita pelo antropólogo e repórter <strong>da</strong><br />

ComCiência Alexandre Zarias com o sociólogo Sérgio Adorno, <strong>da</strong> USP, que designarei<br />

adiante por “Entrevista 1” – traz um breve comentário sobre o cenário de desigual<strong>da</strong>de no<br />

Brasil, que exclui grande parte <strong>da</strong> população dos seus direitos constitucionais e estigmatiza<br />

22 Disponível na Internet <strong>em</strong> http://www.comciencia.br/entrevistas/negros/adorno.htm<br />

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