Texto completo em PDF - Museu da Vida
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polêmico como clonag<strong>em</strong>, <strong>em</strong> que é preciso ouvir no mínimo duas fontes sobre o assunto:<br />
qu<strong>em</strong> é contra e qu<strong>em</strong> é a favor. Mas o recorte <strong>da</strong>s falas de lados opostos e a sua colag<strong>em</strong><br />
“lado a lado” na elaboração <strong>da</strong> notícia envolv<strong>em</strong> uma determina<strong>da</strong> construção de sentidos<br />
(cf. CALDAS, 2002, pp. 135-136). E o efeito de sentido aqui produzido pela jornalista é o de<br />
mostrar as “armas” com que lutam ca<strong>da</strong> um dos lados dessa “batalha”: de um lado, as palavras<br />
<strong>da</strong> cientista que enaltec<strong>em</strong> o apoio que os ingleses dão às pesquisas com células <strong>em</strong>brionárias;<br />
e de outro, a “ameaça” do parlamentar de propor um projeto de lei para evitar que cientistas<br />
brasileiros utiliz<strong>em</strong> o banco de células-tronco <strong>em</strong>brionárias <strong>da</strong> Inglaterra. No fragmento<br />
abaixo, Solange Henriques constrói outro confronto, dessa vez, entre o mesmo parlamentar e<br />
um segundo cientista de outro centro de ensino e pesquisa <strong>da</strong> mesma universi<strong>da</strong>de.<br />
(Notícia 2 - Fragmento 4)<br />
“Somos favoráveis à clonag<strong>em</strong> terapêutica (com finali<strong>da</strong>de de cura), mas deve haver<br />
um limite. O corpo t<strong>em</strong> potencial rico <strong>em</strong> células pluripotentes, de orig<strong>em</strong> não<br />
<strong>em</strong>brionária. Nenhum argumento vai nos convencer de que não há risco na clonag<strong>em</strong><br />
humana...”, alega o deputado Vieira ... “Os ingleses são os mais avançados <strong>em</strong> termos<br />
de liber<strong>da</strong>de para essas pesquisas. São menos amarrados a dogmas e preconceitos de<br />
religião”, comenta [o médico Marco Segre, professor de bioética <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de<br />
Medicina <strong>da</strong> USP].<br />
A ex<strong>em</strong>plo do que já apontamos na análise de uma <strong>da</strong>s falas relata<strong>da</strong>s que destacamos<br />
no capítulo sobre reportagens, aqui também há a referência implícita a uma situação<br />
pressuposta (cf. DUCROT, 1981, p. 23) na fala do médico <strong>da</strong> USP. Ele diz que os ingleses<br />
“são menos amarrados a dogmas e preconceitos de religião”, o que pode ser interpretado<br />
como “menos que o resto do mundo” ou “menos que os brasileiros”. Mas o que está implícito<br />
<strong>em</strong> sua fala é que aqueles que não apóiam o uso de células de <strong>em</strong>briões <strong>em</strong> pesquisas são<br />
pessoas “amarra<strong>da</strong>s a dogmas e preconceitos de religião”. Mais uma vez, pod<strong>em</strong>os observar,<br />
no fragmento acima, o trabalho <strong>da</strong> jornalista na construção de sentidos (cf. POSSENTI, 1988<br />
e CALDAS, 2002), ao selecionar determinado recorte <strong>da</strong> fala do parlamentar e confrontá-lo<br />
com o recorte <strong>da</strong> fala do segundo cientista. Nesse caso, a explícita nomeação do personag<strong>em</strong><br />
do mundo científico (cf. ZAMBONI, 1997, p. 82), com sua titulação e cargo na universi<strong>da</strong>de,<br />
adquire um caráter argumentativo na notícia de Solange Henriques: o fato de ser médico de<br />
uma <strong>da</strong>s mais conceitua<strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des do país, de certa forma, o “autoriza” a falar sobre as<br />
pesquisas que pod<strong>em</strong> levar à cura de determina<strong>da</strong>s doenças; e o fato de ser professor de<br />
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