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Texto completo em PDF - Museu da Vida

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ARTIGO 2<br />

Na<strong>da</strong> contra a clonag<strong>em</strong><br />

121<br />

Bernardo Beiguelman *<br />

A palavra clone foi cria<strong>da</strong> <strong>em</strong> Biologia para designar indivíduos que se originam de outros por reprodução<br />

assexua<strong>da</strong>. A clonag<strong>em</strong>, que é o nome que se dá à formação de clones, é o meio de reprodução mais freqüente<br />

e natural dos vegetais inferiores, mas as plantas superiores também pod<strong>em</strong> se multiplicar desse modo, como é<br />

o caso <strong>da</strong> grama dos jardins, que geram plantas independentes ao formar<strong>em</strong> raízes nos nós dos ramos laterais<br />

junto à terra. Às vezes, como acontece com a bananeira e, geralmente, com a parreira e com a cana de açúcar,<br />

a clonag<strong>em</strong> é o único meio de multiplicação de uma planta. Quando um jardineiro obtém mu<strong>da</strong>s de begônia a<br />

partir de uma folha ou usa estacas corta<strong>da</strong>s dos ramos de uma roseira, para conseguir mu<strong>da</strong>s planta<strong>da</strong>s ou<br />

enxerta<strong>da</strong>s, ele está praticando clonag<strong>em</strong>. Aliás, foi dessa prática que surgiu o termo clone, porque, <strong>em</strong> grego,<br />

klón significa estaca.<br />

A clonag<strong>em</strong> também ocorre naturalmente <strong>em</strong> animais, inclusive na espécie humana. De fato, <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as<br />

populações humanas, t<strong>em</strong>-se que, de ca<strong>da</strong> mil nascimentos, <strong>em</strong> média, quatro são de pares de gêmeos<br />

denominados univitelinos ou monozigóticos, porque se originam de um único ovo ou zigoto. Assim, <strong>em</strong> vez de o<br />

zigoto originar um único indivíduo, t<strong>em</strong>-se que, nos primeiros estágios do desenvolvimento <strong>em</strong>brionário, entre<br />

um e 14 dias após a formação do zigoto, ocorre uma subdivisão que dá orig<strong>em</strong> a dois indivíduos. Essa<br />

subdivisão é, pois, uma reprodução assexua<strong>da</strong>. Por ter<strong>em</strong> essa orig<strong>em</strong>, os gêmeos monozigóticos são,<br />

indiscutivelmente, clones e, regra geral, geneticamente idênticos.<br />

É essa identi<strong>da</strong>de que faz com que os gêmeos monozigóticos sejam do mesmo sexo, isto é, pares do sexo<br />

masculino ou do sexo f<strong>em</strong>inino. O nascimento de trigêmeos monozigóticos é b<strong>em</strong> menos freqüente e, mais<br />

raramente ain<strong>da</strong>, nasc<strong>em</strong> tetragêmeos ou quíntuplos monozigóticos. Esses clones humanos naturais não<br />

dev<strong>em</strong>, entretanto, ser confundidos com os gêmeos que resultam de poliovulação e que, por isso, não são<br />

necessariamente concor<strong>da</strong>ntes quanto ao sexo e pod<strong>em</strong> ser dizigóticos, trizigóticos, tetrazigóticos etc.,<br />

conforme se origin<strong>em</strong> de dois, três, quatro etc. zigotos distintos.<br />

Diss<strong>em</strong>os acima que os gêmeos monozigóticos têm, regra geral, o mesmo patrimônio genético (genótipo). Por<br />

que regra geral? Porque durante qualquer reprodução assexua<strong>da</strong> pode ocorrer alguma alteração do material<br />

genético (mutação), resultando um ser com genótipo um pouco diferente <strong>da</strong>quele presente no ser original. Mas,<br />

na ausência de mutação, os gêmeos monozigóticos, do mesmo modo que outros clones são geneticamente<br />

idênticos. Essa identi<strong>da</strong>de genética, entretanto, não significa identi<strong>da</strong>de na aparência física ou psicológica,<br />

porque todo o ser vivo é o resultado <strong>da</strong> interação <strong>da</strong> sua constituição genética com o ambiente e é por isso que<br />

os gêmeos monozigóticos têm aparência física s<strong>em</strong>elhante, mas não são fisicamente idênticos, além do que,<br />

eles apresentam individuali<strong>da</strong>de psicológica. Parece interessante insistir nesse detalhe porque,<br />

lamentavelmente, existe uma tendência generaliza<strong>da</strong> de enfatizar apenas a importância <strong>da</strong> constituição<br />

genética <strong>da</strong>s pessoas e de menosprezar o efeito do ambiente, como se o ser humano não fosse mais do que o<br />

seu genótipo! Tudo na socie<strong>da</strong>de humana, inclusive a criminali<strong>da</strong>de ou o uso de drogas, é apresentado pelos<br />

meios de comunicação como conseqüência de um destino genético, talvez para que muitos sejam levados a<br />

crer que os governos não pod<strong>em</strong> ser responsabilizados pela "falta de sorte" de uma parte de sua população.<br />

Do exposto, pode-se concluir que, no início de 1997, os meios de comunicação denominaram incorretamente de<br />

clone à famosa ovelha Dolly, porque ela resultou <strong>da</strong> união de um ovócito de uma ovelha de cor escura, do qual<br />

foi retirado o núcleo (ovócito enucleado), com uma célula <strong>da</strong> teta de uma ovelha branca. Em outras palavras, a<br />

ovelha Dolly herdou <strong>da</strong> ovelha branca o material genético nuclear, isto é, o DNA contido nos cromossomos do<br />

núcleo <strong>da</strong> célula <strong>da</strong> teta, e herdou <strong>da</strong> ovelha escura o material genético citoplasmático, isto é, o DNA contido<br />

<strong>em</strong> organelas denomina<strong>da</strong>s mitocôndrios. Para gerar a ovelha Dolly alcançou-se, assim, o feito espetacular de<br />

fazer com que os genes nucleares de uma célula diferencia<strong>da</strong> originária <strong>da</strong> teta <strong>da</strong> ovelha branca passass<strong>em</strong> a<br />

funcionar como os de uma célula indiferencia<strong>da</strong>, isto é, como aquelas do início do desenvolvimento<br />

<strong>em</strong>brionário.

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