Texto completo em PDF - Museu da Vida
Texto completo em PDF - Museu da Vida
Texto completo em PDF - Museu da Vida
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
essalta<strong>da</strong> <strong>em</strong> sua fala na entrevista <strong>em</strong> relação a um suposto artigo científico que ele<br />
assinasse sobre esse mesmo estudo é a forma de apresentação dos <strong>da</strong>dos, além de sua<br />
avaliação, que adiante, aparecerá (de forma “vulgariza<strong>da</strong>”) <strong>em</strong> outros fragmentos.<br />
Além desse aspecto <strong>da</strong>s entrevistas com cientistas representar<strong>em</strong> falas já vulgariza<strong>da</strong>s,<br />
por ser<strong>em</strong> volta<strong>da</strong>s para um público mais amplo do que os pares científicos do entrevistado,<br />
há também, por outro lado, o fato de se atribuir a essas falas um certo poder e uma certa<br />
autori<strong>da</strong>de. Como já apontamos nos capítulos anteriores, a figura do cientista goza de um<br />
considerável prestígio na nossa socie<strong>da</strong>de, e de certa forma, ocupa um lugar de “autori<strong>da</strong>de<br />
discursiva” de qu<strong>em</strong> detém certo conhecimento. Para Eni ORLANDI (2000, pp. 39-40), o que<br />
um sujeito diz é constituído também pelo lugar a partir do qual ele fala. Ela cita como<br />
ex<strong>em</strong>plo a diferença de significação <strong>da</strong>s palavras que são ditas a partir do lugar do professor e<br />
do lugar do aluno, assim como é diferente a significação do que é dito do lugar do padre, que<br />
t<strong>em</strong> determina<strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de junto aos seus fiéis. Segundo a autora, “como nossa socie<strong>da</strong>de é<br />
constituí<strong>da</strong> por relações hierarquiza<strong>da</strong>s, são relações de força, sustenta<strong>da</strong>s no poder desses<br />
diferentes lugares, que se faz<strong>em</strong> valer na ‘comunicação’”. Nesse sentido, de acordo com<br />
BUENO (1984, p. 63), “as entrevistas costumam merecer a atenção dos editores e, sobretudo,<br />
dos responsáveis pelas páginas de ciência e tecnologia”, pois “há uma tendência a se<br />
privilegiar os grandes nomes <strong>da</strong> ciência, tornando-os quase s<strong>em</strong>pre os porta-vozes de to<strong>da</strong> a<br />
comuni<strong>da</strong>de”. No fragmento abaixo, Mayana Zatz, considera<strong>da</strong> uma expoente <strong>em</strong> sua área – a<br />
genética – é convi<strong>da</strong><strong>da</strong> pela repórter a <strong>em</strong>itir sua opinião sobre o t<strong>em</strong>a “Clonag<strong>em</strong>”.<br />
(Entrevista 2 – fragmento 4)<br />
ComCiência: Qual seu posicionamento com relação à clonag<strong>em</strong> humana?<br />
Zatz: Sou contra a clonag<strong>em</strong> humana reprodutiva, mas totalmente a favor do uso de<br />
<strong>em</strong>briões para uso terapêutico ... O que as pessoas não estão entendendo direito é o<br />
que chamamos de “clonag<strong>em</strong> terapêutica”. As pessoas acham que na clonag<strong>em</strong><br />
terapêutica será formado um <strong>em</strong>brião, do qual vamos tirar o fígado, o coração...<br />
Várias pessoas já me disseram que é isso o que elas entend<strong>em</strong> por clonag<strong>em</strong><br />
terapêutica. Tanto é que um dia desses eu vi num jornal um esqu<strong>em</strong>a para explicar a<br />
clonag<strong>em</strong> terapêutica com o desenho de um feto de 3 ou 4 meses. Eu disse: “pelo<br />
amor de Deus! Tira essa imag<strong>em</strong> <strong>da</strong>í e põe meia dúzia de células, pois é disto que<br />
estamos falando!” Quando as pessoas vê<strong>em</strong> um monte de células, ninguém se<br />
impressiona...<br />
78