Texto completo em PDF - Museu da Vida
Texto completo em PDF - Museu da Vida
Texto completo em PDF - Museu da Vida
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
entrevistas pingue-pongue, dos pesquisadores que são convi<strong>da</strong>dos a colaborar com artigos e<br />
<strong>da</strong>s obras que são resenha<strong>da</strong>s <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> edição.<br />
O fato de esses textos ser<strong>em</strong> voltados para um público leigo e não especializado está<br />
ligado a outra característica geral de todo e qualquer discurso e não apenas dos discursos de<br />
divulgação científica: o seu caráter dialógico. O leitor/receptor – ou a consciência de qu<strong>em</strong><br />
toma conhecimento do texto (cf. BAKHTIN, 1997) – é apenas um dos aspectos desse caráter<br />
dialógico de todo e qualquer discurso. O outro aspecto é a referência que um discurso faz a<br />
algo que já foi dito anteriormente. Como ex<strong>em</strong>plo, apontamos: os autores mencionados por<br />
Octavio Ianni <strong>em</strong> seu artigo sobre a questão racial, aos quais ele claramente se opõe; as<br />
“vozes” incorpora<strong>da</strong>s na resenha de Glacy de Roure, sobre o filme Inteligência Artificial, para<br />
reforçar a sua argumentação com viés psicanalítico a respeito dos robôs ser<strong>em</strong> “objetos<br />
perfeitos para ocupar<strong>em</strong> o lugar de objeto de gozo do outro que o possui”; e as falas<br />
seleciona<strong>da</strong>s para determina<strong>da</strong>s construções de sentido nas reportagens e nas notícias, que já<br />
diss<strong>em</strong>os ser uma característica <strong>da</strong> prática jornalística.<br />
Quanto às singulari<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> um dos gêneros do discurso de divulgação científica<br />
envolvidos no corpus de análise desta dissertação, a primeira distinção importante a ser feita é<br />
entre os gêneros opinativos e os gêneros informativos/interpretativos. Como observamos nas<br />
análises, os artigos e as resenhas pressupõ<strong>em</strong> autoria defini<strong>da</strong> e explicita<strong>da</strong>, e seus autores são<br />
considerados as próprias “autori<strong>da</strong>des” no assunto que esses textos abor<strong>da</strong>m, não sendo a eles<br />
necessário recorrer à fala de um especialista para <strong>da</strong>r credibili<strong>da</strong>de ao que diz<strong>em</strong>. Vale<br />
observar que dentre os textos desses gêneros no corpus analisado, apenas a resenha de Glacy<br />
de Roure incorpora o discurso direto de especialistas, e como diss<strong>em</strong>os acima, a autora usa<br />
esse artifício para reforçar sua argumentação. Uma <strong>da</strong>s características que distingue esses<br />
gêneros opinativos <strong>da</strong>s reportagens e notícias é justamente a recorrência do discurso direto de<br />
terceiros na construção dos textos, que no caso dos gêneros informativos, deixa a cargo do<br />
“outro” – o entrevistado que serviu de fonte – a responsabili<strong>da</strong>de de <strong>em</strong>itir opinião sobre o<br />
assunto que está sendo relatado. Vimos, no entanto, que o repórter e o veículo de<br />
comunicação também pod<strong>em</strong> revelar seu posicionamento através <strong>da</strong>s escolhas <strong>da</strong>s fontes e <strong>da</strong><br />
composição de suas falas na construção do texto.<br />
Também mostramos que o gênero entrevista, por sua vez, se situa numa fronteira<br />
difícil de ser delimita<strong>da</strong>, apresentando características ora dos gêneros informativos ora dos<br />
gêneros opinativos. Cabe observar que os gêneros jornalísticos <strong>em</strong> geral pod<strong>em</strong> apresentar<br />
características híbri<strong>da</strong>s: uma resenha como a de Daniel Chiozzini, além de opinar, informa<br />
sobre a obra resenha<strong>da</strong> (o livro de Robert Slennes); um artigo como o de Bernardo<br />
98