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Texto completo em PDF - Museu da Vida

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a imag<strong>em</strong> do cientista que a novela apresenta para o grande público. Só que nesse caso, a<br />

entrevista<strong>da</strong> surpreende com uma resposta inusita<strong>da</strong>: ao invés de sair <strong>em</strong> defesa <strong>da</strong> classe<br />

científica à qual pertence, e cuja imag<strong>em</strong> estaria supostamente sendo denegri<strong>da</strong> pela novela,<br />

Zatz diz que seria ótimo se a imag<strong>em</strong> do cientista <strong>da</strong> ficção que não se importa com as<br />

conseqüências de seus experimentos com clonag<strong>em</strong> afetasse a imag<strong>em</strong> dos cientistas <strong>da</strong> “vi<strong>da</strong><br />

real”, alguns dos quais, segundo ela, realmente não se importam com o que acontece à sua<br />

volta. Aqui, portanto, solicita<strong>da</strong> a <strong>em</strong>itir um juízo de valor sobre uma questão previamente<br />

defini<strong>da</strong> pela repórter, a entrevista<strong>da</strong> apresenta sua posição quanto à hipótese levanta<strong>da</strong> na<br />

pergunta, mas logo <strong>em</strong> segui<strong>da</strong>, descarta essa hipótese, dizendo que o público, ao invés de<br />

condenar a atitude do cientista, confunde ficção com reali<strong>da</strong>de e deseja ver “clonado” algum<br />

ente próximo falecido. Essa fala de Zatz ilustra o que diz a autora de uma <strong>da</strong>s resenhas que<br />

analisamos no capítulo VII: segundo ela, a ficção de nosso t<strong>em</strong>po “sustenta a ilusão do<br />

hom<strong>em</strong> cont<strong>em</strong>porâneo <strong>em</strong> arvorar-se Deus e alcançar o impossível, intervindo na criação [e<br />

poderíamos acrescentar, na perpetuação] <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>”. Curiosamente, após reconhecer que há na<br />

ciência personagens como Albieri, que realizam suas experiências s<strong>em</strong> se importar com as<br />

conseqüências – e concor<strong>da</strong>r que isso é uma imag<strong>em</strong> negativa –, Zatz também reconhece<br />

(ain<strong>da</strong> que implicitamente) que o conhecimento científico acerca <strong>da</strong> clonag<strong>em</strong> irá continuar<br />

avançando, n<strong>em</strong> que seja na ilegali<strong>da</strong>de, conforme se pode ver no fragmento abaixo.<br />

(Entrevista 2 – fragmento 8)<br />

ComCiência: A senhora considera o anúncio <strong>da</strong> ACT [Advanced Cell<br />

Technologies, sobre o primeiro <strong>em</strong>brião humano clonado] irresponsável?<br />

Zatz: Acho que ele gerou uma reação contrária enorme. Mas é uma ilusão achar que<br />

vamos parar esse processo [<strong>da</strong> clonag<strong>em</strong>]. Ele não vai parar. É melhor aprová-lo e<br />

fazer as pesquisas de forma controla<strong>da</strong>, do que proibir e as pesquisas continuar<strong>em</strong><br />

“por baixo do pano”. Outra coisa é que exist<strong>em</strong> muitos ex<strong>em</strong>plos de avanços<br />

científicos que são usados para o b<strong>em</strong> e para o mal. A energia atômica é uma delas. E<br />

<strong>da</strong>í a questão: será que vale a pena correr o risco de termos uma tecnologia que pode<br />

ser desenvolvi<strong>da</strong> para a clonag<strong>em</strong> terapêutica, mas pode ser usa<strong>da</strong> também para a<br />

clonag<strong>em</strong> humana? Eu acho que vale a pena a gente correr este risco porque<br />

diferent<strong>em</strong>ente <strong>da</strong> energia atômica, que pode causar um desastre geral, a clonag<strong>em</strong><br />

reprodutiva nunca vai acontecer <strong>em</strong> larga escala.<br />

Nessa fala <strong>da</strong> geneticista – guar<strong>da</strong><strong>da</strong>s as proporções <strong>em</strong> relação à imag<strong>em</strong> de Albieri,<br />

na ficção – também há de certa forma o privilégio <strong>da</strong> pesquisa <strong>em</strong> si e a minimização <strong>da</strong>s<br />

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