Texto completo em PDF - Museu da Vida
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(Artigo 1 - Fragmento 12)<br />
É evidente que Huntington “esquece” a presença e a atuação do mercantilismo,<br />
colonialismo, imperialismo ou capitalismo, simultaneamente “ocidentalismo” na<br />
constituição do seu mapa do mundo; uma “recomposição <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> mundial” de<br />
conformi<strong>da</strong>de com a geopolítica norteamericana, arrogando-se como herdeira do<br />
“ocidentalismo”, como guardião do capitalismo, ou vice e versa.<br />
O duplo sentido <strong>em</strong> um termo aspeado aparece novamente nesse fragmento 12 do<br />
“Artigo 1”: o que Ianni está dizendo efetivamente é que a teoria de Huntington omite “a<br />
presença e a atuação do mercantilismo, colonialismo, imperialismo ou capitalismo ... na<br />
constituição do seu mapa do mundo”. O termo “arrogando-se” que aparece na seqüência,<br />
apesar de não ter sido aspeado por Ianni, também possui duplo sentido: “arrogar” significa,<br />
entre outras coisas, “atribuir a si” – ou seja, de acordo com o “Artigo 1”, a geopolítica<br />
norteamericana atribui a si como herdeira do ocidentalismo –; mas <strong>em</strong> se tratando de uma<br />
referência à maior potência mundial (os Estados Unidos), a escolha do verbo “arrogar-se”<br />
leva o leitor à inevitável associação com o adjetivo “arrogante” e o substantivo “arrogância”.<br />
Os fragmentos dos artigos de divulgação científica apresentados neste capítulo<br />
ilustram o caráter dialógico que há <strong>em</strong> todo discurso (cf. BAKTHIN, 1997), tanto no que diz<br />
respeito à referência a outros discursos enunciados anteriormente quanto no que concerne à<br />
sua recepção – no caso, a relação dos artigos com o seu “leitor virtual” (cf. CORACINI,<br />
1991). Esses fragmentos também mostram que independent<strong>em</strong>ente do uso ou não <strong>da</strong> 1ª pessoa<br />
<strong>em</strong> um gênero como o do artigo, há marcas de subjetivi<strong>da</strong>de que pod<strong>em</strong> ser encontra<strong>da</strong>s tanto<br />
nesse como <strong>em</strong> todo e qualquer outro gênero do discurso – seja ele científico ou de<br />
divulgação científica – <strong>em</strong> diferentes gra<strong>da</strong>ções (cf. ABRAMO, 2003).<br />
Comparando esses dois artigos aqui analisados – um sobre Ciências Humanas e outro<br />
sobre Ciências Biológicas – não seria prudente generalizar, por ex<strong>em</strong>plo, que todo texto de<br />
divulgação <strong>da</strong> primeira área tenderia a manter o distanciamento clássico no uso <strong>da</strong> 3ª pessoa,<br />
enquanto os <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> área poderiam apresentar o posicionamento explícito do autor através<br />
do uso <strong>da</strong> 1ª pessoa. Pode-se dizer, contudo, que tanto <strong>em</strong> uma área como <strong>em</strong> outra, s<strong>em</strong>pre<br />
haverá marcas de subjetivi<strong>da</strong>de <strong>em</strong> um texto de divulgação, sejam elas <strong>em</strong> maior ou menor<br />
grau. Além disso, <strong>em</strong> ambas as áreas, o discurso de divulgação científica dialoga com outros<br />
discursos e, sobretudo, com o leitor imaginado por qu<strong>em</strong> constrói o texto. E o público alvo de<br />
um artigo de divulgação científica – seja ele mais restrito, como no caso do texto de Ianni, ou<br />
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