Texto completo em PDF - Museu da Vida
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células-tronco <strong>em</strong>brionárias – o primeiro do mundo, e portanto, um fato internacionalmente<br />
relevante – para tratar fun<strong>da</strong>mentalmente do debate que existe entre cientistas e parlamentares<br />
brasileiros envolvendo a elaboração <strong>da</strong>s leis que irão reger as pesquisas envolvendo células-<br />
tronco e estabelecer os limites <strong>da</strong> clonag<strong>em</strong> (de órgãos ou de seres vivos) no Brasil. Ou seja, a<br />
criação do banco inglês, que poderia ser o foco <strong>da</strong> notícia, é apenas o que se chama de<br />
“gancho”, no jargão jornalístico. De acordo com o Novo Manual <strong>da</strong> Re<strong>da</strong>ção, do jornal<br />
FOLHA DE S. PAULO (1992, p. 145) o “gancho” dos textos jornalísticos é “alguma razão<br />
que lhes dê atuali<strong>da</strong>de e interesse geral para justificar sua publicação”. Nos termos de LAGE<br />
(1982, p. 36), pode-se dizer que o fato mais importante no recorte de Solange Henriques é a<br />
inauguração do banco de células-tronco <strong>em</strong>brionárias na Inglaterra, mas o aspecto mais<br />
importante que ela se propõe a mostrar desse fato – e já anuncia no título <strong>da</strong> notícia – é o seu<br />
potencial para alimentar a polêmica existente no Brasil sobre o assunto.<br />
O trabalho <strong>da</strong> jornalista como sujeito enunciador (cf. POSSENTI, 1988) também<br />
aparece aqui na escolha lexical: ao selecionar o termo “discórdia” entre outros disponíveis na<br />
língua (como “discordância”, por ex<strong>em</strong>plo), Solange Henriques está produzindo um<br />
determinado efeito de sentido, pois segundo o Dicionário Houaiss, uma <strong>da</strong>s acepções desse<br />
termo é “estado belicoso entre lados <strong>em</strong> desacordo”, ou seja, “guerra, luta”, o que dá marg<strong>em</strong><br />
para o público leitor de sua notícia ver o debate sobre clonag<strong>em</strong> no Brasil como uma batalha<br />
campal entre cientistas e parlamentares. No fragmento abaixo, a jornalista também busca esse<br />
efeito de sentido ao confrontar as falas de ca<strong>da</strong> um dos lados dessa “luta”.<br />
(Notícia 2 - Fragmento 3)<br />
“Não acreditamos que os cientistas irão se utilizar disso [o banco inglês de células-<br />
tronco <strong>em</strong>brionárias]. Mas se acontecer, haverá, s<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong>, uma toma<strong>da</strong> de posição<br />
de nossa parte. Talvez um projeto de lei”, garante o deputado federal Adelor Vieira<br />
(PMDB-SC), coordenador <strong>da</strong> Frente Parlamentar Evangélica ... “Acho que é uma<br />
iniciativa bárbara [a do banco inglês de células-tronco <strong>em</strong>brionárias]. Formaliza o<br />
apoio que a Inglaterra dá à pesquisa com células <strong>em</strong>brionárias, enquanto no Brasil<br />
ain<strong>da</strong> se discute se ela deve ser permiti<strong>da</strong> ou não...”, afirma a bióloga Lygia Pereira,<br />
do Instituto de Biociências <strong>da</strong> USP.<br />
Como já observamos no capítulo dedicado à análise do gênero reportag<strong>em</strong>, a polifonia<br />
de “vozes” que falam de perspectivas ou pontos de vista diferentes (cf. KOCH, 1995, p. 58) é<br />
característica <strong>da</strong> construção do texto jornalístico, especialmente quando se trata de um assunto<br />
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