Texto completo em PDF - Museu da Vida
Texto completo em PDF - Museu da Vida
Texto completo em PDF - Museu da Vida
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
direito à igual<strong>da</strong>de de oportuni<strong>da</strong>des, assegurado pela Declaração Universal<br />
dos Direitos Humanos, promulga<strong>da</strong> pelas Nações Uni<strong>da</strong>s <strong>em</strong> 1948.<br />
Percebe-se claramente, nessa citação, que o geneticista simplesmente ignora a herança<br />
histórica que os afrodescendentes carregam até hoje do período colonial. Após esse longo<br />
parêntesis, que penso iluminar um pouco a análise do texto de Cantarino e <strong>da</strong>s falas por ela<br />
recorta<strong>da</strong>s – ou pelo menos deixa claro ao leitor deste trabalho a minha “posição particular na<br />
rede tensa <strong>da</strong>s tendências políticas” (cf. SANTAELLA, 1996, p. 331) – volt<strong>em</strong>os à notícia. O<br />
fragmento abaixo mostra que as falas seleciona<strong>da</strong>s pela repórter dialogam não apenas entre si,<br />
de acordo com a construção de sentidos que ela faz, mas dialogam fun<strong>da</strong>mentalmente com o<br />
próprio texto <strong>da</strong> notícia ao qual elas são incorpora<strong>da</strong>s.<br />
(Notícia 1 - Fragmento 8)<br />
O preconceito racial é uma <strong>da</strong>s questões <strong>em</strong> que é possível sublinhar a complexi<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> relação entre des<strong>em</strong>penho escolar e desigual<strong>da</strong>de. O despreparo dos professores<br />
para li<strong>da</strong>r<strong>em</strong> com essa questão e a dificul<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s crianças <strong>em</strong> verbalizar as<br />
experiências de preconceito sofri<strong>da</strong>s, muitas vezes, se constitui num impedimento<br />
para que esta questão seja discuti<strong>da</strong> <strong>em</strong> sala de aula. E essa dificul<strong>da</strong>de tende a ser<br />
reproduzi<strong>da</strong> na universi<strong>da</strong>de.<br />
Como se pode observar nesse fragmento, a apresentação de um probl<strong>em</strong>a social do<br />
país – uma <strong>da</strong>s funções espera<strong>da</strong>s do discurso jornalístico, seja ele uma reportag<strong>em</strong> mais<br />
extensa ou uma notícia curta e mais pontual – é feita, no caso do texto de Cantarino, de forma<br />
argumentativa. A repórter afirma que a “complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> relação entre des<strong>em</strong>penho escolar e<br />
desigual<strong>da</strong>de” pode ser destaca<strong>da</strong> na questão do preconceito, que segundo ela, é dificilmente<br />
discuti<strong>da</strong> <strong>em</strong> sala de aula. Cantarino busca reforço para o seu argumento – como se pode ver<br />
no fragmento 7 acima – na fala de especialistas que gozam de prestígio, por estar<strong>em</strong><br />
socialmente na condição de qu<strong>em</strong> profere um “discurso autorizado” (cf. ZAMBONI, 1997 e<br />
MAINGUENEAU, 1987). O probl<strong>em</strong>a do preconceito no Brasil – sobre o qual há uma<br />
“conspiração do silêncio”, segundo a antropóloga <strong>da</strong> USP – aparece na notícia de Cantarino,<br />
no entanto, apenas após um intertítulo que v<strong>em</strong> depois do quinto parágrafo. O foco inicial <strong>da</strong><br />
notícia é a possibili<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos estatísticos e pesquisas qualitativas <strong>em</strong> Ciências Humanas<br />
se transformar<strong>em</strong> <strong>em</strong> políticas públicas na área de educação. No fragmento abaixo,<br />
novamente se vê um diálogo construído pela repórter a partir de falas feitas por pessoas que<br />
92