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Texto completo em PDF - Museu da Vida

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trancado <strong>em</strong> um laboratório, pouco se importando com o que acontece à sua volta. Mas não é isso que eu acho<br />

que está acontecendo, porque já me contaram que t<strong>em</strong> gente que encontra o ator que interpreta o Dr. Albieri<br />

na novela e pede para ele clonar um filho que morreu. E eu acho que esta é a pior situação, porque<br />

<strong>em</strong>ocionalmente eu posso entender uma pessoa que sofre por um filho que morreu! A pior coisa que pode<br />

acontecer com alguém é perder um filho. Tentar substituir este filho é muito aceitável. O personag<strong>em</strong> Albieri<br />

t<strong>em</strong> uma imag<strong>em</strong> antipática, anti-ética, mas isto a novela está mostrando de forma fiel.<br />

Com Ciência: Como foi a sua consultoria <strong>da</strong><strong>da</strong> à equipe <strong>da</strong> novela O Clone?<br />

Zatz: A consultoria que eu dei foi sobre aspectos éticos, não técnicos. Quando eu fui procura<strong>da</strong> para falar sobre<br />

os aspectos éticos, a novela já estava escrita e eu não falei absolutamente na<strong>da</strong> sobre aspectos genéticos.<br />

Reforcei a importância de que a novela teria de estar educando o povo sobre este assunto, mas infelizmente<br />

isto não aconteceu. E esse foi o ponto que eu mais enfatizei.<br />

Com Ciência: O público <strong>da</strong> novela O Clone compreende melhor a divulgação, pela <strong>em</strong>presa norte<br />

americana Advanced Cell Technologies, sobre o primeiro <strong>em</strong>brião humano clonado devido às<br />

informações transmiti<strong>da</strong>s na novela?<br />

Zatz: Na minha opinião, não. Ain<strong>da</strong> continuam as mesmas<br />

dúvi<strong>da</strong>s sobre a clonag<strong>em</strong>.<br />

Com Ciência: Qual seu posicionamento com relação a<br />

clonag<strong>em</strong> humana?<br />

Zatz: Sou contra a clonag<strong>em</strong> humana reprodutiva, mas<br />

totalmente a favor do uso de <strong>em</strong>briões para uso terapêutico.<br />

O que foi mostrado [pela ACT] foi um exagero. Na reali<strong>da</strong>de,<br />

o que eles fizeram foi transferir o núcleo de uma célula já<br />

diferencia<strong>da</strong> para um óvulo s<strong>em</strong> núcleo, que se dividiu até<br />

seis células. Só que ter se dividido até seis células, e não<br />

oito (que era o esperado), já nos mostra uma falha. De<br />

qualquer maneira, o máximo que eles poderiam ter<br />

anunciado era que conseguiram uma transferência de um<br />

núcleo de uma célula somática para um óvulo. Eu acho que<br />

existe um exagero de chamar [resultado <strong>da</strong> ACT] de clone humano, um exagero enorme <strong>da</strong> imprensa contra<br />

isso. O limite, enquanto se está fazendo essas pesquisas no laboratório, é implantar [o <strong>em</strong>brião] no útero! Em<br />

clonag<strong>em</strong> terapêutica, nunca vai haver implantação do <strong>em</strong>brião <strong>em</strong> um útero. O que as pessoas não estão<br />

entendendo direito é o que chamamos de "clonag<strong>em</strong> terapêutica". As pessoas acham na clonag<strong>em</strong> terapêutica<br />

será formado um <strong>em</strong>brião, do qual vamos tirar o fígado, o coração... Várias pessoas já me disseram que é isso<br />

o que elas entend<strong>em</strong> por clonag<strong>em</strong> terapêutica. Tanto é que um dia desses eu vi num jornal um esqu<strong>em</strong>a para<br />

explicar a clonag<strong>em</strong> terapêutica com o desenho de um feto de 3 ou 4 meses. Eu disse: "pelo amor de Deus!<br />

Tira essa imag<strong>em</strong> <strong>da</strong>í e põe meia dúzia de células, pois é disto que estamos falando!" Quando as pessoas vê<strong>em</strong><br />

um monte de células, ninguém se impressiona...<br />

Com Ciência: Muitos acreditam que quando se utiliza um <strong>em</strong>brião para fins terapêuticos se está<br />

matando uma pessoa ... Seria importante definir quando é que a vi<strong>da</strong> humana começa a existir.<br />

Zatz: Esta é uma questão filosófica. Biologicamente, quando se forma o sist<strong>em</strong>a nervoso há um feto. Quando<br />

se definiu que a vi<strong>da</strong> começava no momento <strong>da</strong> fertilização, tanto na religião católica quanto na ju<strong>da</strong>ica,<br />

estava-se pensando <strong>em</strong> um útero e a fecun<strong>da</strong>ção <strong>em</strong> um útero é muito diferente <strong>da</strong> que é feita dentro de um<br />

laboratório. É difícil chegar a um consenso sobre quando começa a vi<strong>da</strong>. Uma outra coisa que acho importante<br />

que as pessoas enten<strong>da</strong>m é a questão <strong>da</strong> destruição de <strong>em</strong>briões [<strong>em</strong> clínicas de fertilização]. Se o <strong>em</strong>brião<br />

não for usado para experiências, ele vai ficar congelado ou será descartado. Então, <strong>em</strong> vez de ficar descartando<br />

<strong>em</strong>briões, porque não usá-los para salvar vi<strong>da</strong>s?<br />

Com Ciência: Depois de retira<strong>da</strong>s células, o <strong>em</strong>brião ain<strong>da</strong> poderia ser implantado <strong>em</strong> uma mulher?<br />

Zatz: Sim, a extração de células de <strong>em</strong>briões é uma técnica utiliza<strong>da</strong> para fazer diagnóstico antes <strong>da</strong><br />

implantação de <strong>em</strong>briões <strong>em</strong> mulheres para saber se o feto t<strong>em</strong> alguma doença genética. A retira<strong>da</strong> de uma<br />

célula do <strong>em</strong>brião não impede que ele seja implantado. Você procede exatamente assim: pega um <strong>em</strong>brião de<br />

8 células e tira uma célula para analisar, depois implanta este <strong>em</strong>brião que ele vai para frente.<br />

Com Ciência: Qual a diferença entre a célula-tronco de um <strong>em</strong>brião clonado, de um <strong>em</strong>brião oriundo<br />

de uma fecun<strong>da</strong>ção natural e de um indivíduo adulto?<br />

Zatz: Entre o <strong>em</strong>brião natural e o <strong>em</strong>brião clonado acho que não há diferença. Agora, <strong>em</strong> relação às célulastronco<br />

que exist<strong>em</strong> já no corpo humano, como no cordão umbilical, ain<strong>da</strong> não se sabe. O que sab<strong>em</strong>os é que as<br />

células do <strong>em</strong>brião antes de ser<strong>em</strong> feto são totipotentes, ou seja, elas pod<strong>em</strong> se transformar <strong>em</strong> qualquer<br />

tecido, mas não sab<strong>em</strong>os se as células-tronco do corpo humano ou do cordão umbilical são também<br />

totipotentes ou se são pluripotentes, ou seja, se transformam <strong>em</strong> qualquer tecido ou só <strong>em</strong> algum tecido<br />

específico. Se as células-tronco retira<strong>da</strong>s de cordão umbilical, por ex<strong>em</strong>plo, tiver<strong>em</strong> a capaci<strong>da</strong>de de se<br />

transformar <strong>em</strong> qualquer tecido, está resolvido o probl<strong>em</strong>a. Ninguém vai querer <strong>em</strong>briões para esta finali<strong>da</strong>de.<br />

Mas eu acho que não pod<strong>em</strong>os fechar portas, porque hoje ain<strong>da</strong> não sab<strong>em</strong>os. Meu medo é que os mais afoitos<br />

proíbam as pesquisas e fech<strong>em</strong> as portas.<br />

140<br />

"Desde o colegial, me apaixonei<br />

pela genética, na época <strong>em</strong> que ela<br />

ain<strong>da</strong> não era mo<strong>da</strong>. Os avanços<br />

que estamos vendo hoje, eram<br />

coisa com que não podíamos n<strong>em</strong><br />

sonhar. Acho fun<strong>da</strong>mental que os<br />

debates éticos sejam abertos a to<strong>da</strong><br />

a população". Mayana Zatz

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