Texto completo em PDF - Museu da Vida
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Para a socióloga Antonia Garcia, doutoran<strong>da</strong> do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio de Janeiro, é importante que se conquiste o "Dia Nacional <strong>da</strong> Consciência Negra"<br />
"como o dia nacional de todos os brasileiros e brasileiras que lutam por uma socie<strong>da</strong>de de fato d<strong>em</strong>ocrática,<br />
igualitária, unindo to<strong>da</strong> a classe trabalhadora num projeto de nação que cont<strong>em</strong>ple a diversi<strong>da</strong>de engendra<strong>da</strong><br />
no nosso processo histórico".<br />
Diferente do 20 de nov<strong>em</strong>bro o 13 de maio perdeu força <strong>em</strong> nossa socie<strong>da</strong>de devido a m<strong>em</strong>ória histórica<br />
vencedora: a que atribuiu a abolição à atitude exclusiva <strong>da</strong> princesa Isabel, aparent<strong>em</strong>ente paternalista e<br />
generosa Isabel, analisa o historiador Flávio Gomes. Pesquisas recentes têm recuperado a atuação de escravos,<br />
libertos, intelectuais e jornalistas negros e mestiços para o 13 de maio, mostrando como este não se resumiu a<br />
um decreto, uma lei ou uma dádiva. Esses estudos também têm resgatado o significado <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta para milhares<br />
de escravos e descendentes, que festejaram na ocasião.<br />
São poucos os locais onde se mantêm com<strong>em</strong>orações no 13 de maio. No Vale do Paraíba, no estado de São<br />
Paulo, o 13 de maio é dia de festa. "Não porque a princesa foi uma santa ou porque os abolicionistas simpáticos<br />
foram fun<strong>da</strong>mentais, mas porque a população negra reconhece que a Abolição veio <strong>em</strong> decorrência de muita<br />
luta", diz Gomes. Albertina Vasconcelos, professora do Departamento de História <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual do<br />
Sudoeste <strong>da</strong> Bahia, também l<strong>em</strong>bra que a <strong>da</strong>ta é celebra<strong>da</strong> <strong>em</strong> vários centros de umban<strong>da</strong> na Bahia como o dia<br />
do preto-velho e que moradores antigos do Quilombo do Bananal, <strong>em</strong> Rio de Contas, Bahia, contam que seus<br />
pais e avós festejaram o 13 de maio de 1888 com muitos fogos e festas.<br />
Na opinião de Vasconcelos "é importante com<strong>em</strong>orar, não para contrapor uma <strong>da</strong>ta a outra, os heróis brancos<br />
aos heróis negros, mas porque é necessário tomarmos consciência <strong>da</strong> história que está nessas <strong>da</strong>tas, que traz<br />
el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> nossa identi<strong>da</strong>de". Para a pesquisadora, assim seria possível contribuir para desmistificar to<strong>da</strong> a<br />
construção ideológica produzi<strong>da</strong> sobre o povo negro.<br />
Nas escolas: muita proposta, pouca mu<strong>da</strong>nça<br />
No início de seu man<strong>da</strong>to o presidente Lula aprovou a inclusão do Dia Nacional <strong>da</strong> Consciência Negra no<br />
calendário escolar e tornou obrigatório o ensino de história <strong>da</strong> África nas escolas públicas e particulares do país.<br />
Embora a decisão tenha sido com<strong>em</strong>ora<strong>da</strong>, alguns pesquisadores ressaltam que exist<strong>em</strong> obstáculos a ser<strong>em</strong><br />
ultrapassados para que a proposta se transforme <strong>em</strong> reali<strong>da</strong>de. "Em geral, a história <strong>da</strong><strong>da</strong> segue o livro didático<br />
e ele é insuficiente para <strong>da</strong>r conta de uma forma mais ampla e crítica de to<strong>da</strong> a história", ressalta Vasconcelos.<br />
Essa avaliação <strong>da</strong> historiadora é confirma<strong>da</strong> pela professora de história Ivanir Maia, <strong>da</strong> rede estadual paulista.<br />
"A maioria dos professores se orienta pelo livro didático para trabalhar os conteúdos <strong>em</strong> sala de aula. Nos livros<br />
de história, por ex<strong>em</strong>plo, o negro aparece basicamente <strong>em</strong> dois momentos: ao falar de abolição <strong>da</strong> escravatura<br />
e do apartheid".<br />
Campos destaca que alguns livros didáticos de história têm sido mais generosos ao retratar a "história dos<br />
vencidos", mas ressalta que a maioria, inclusive os livros ligados a sua área - a geografia -, continua a veicular<br />
os fatos sociais de forma depreciativa, seja referente ao Brasil ou a África. "Encontramos com fartura os<br />
el<strong>em</strong>entos de modo civilizatório ocidental como a única ver<strong>da</strong>de que merece maiores considerações",<br />
ex<strong>em</strong>plifica. Uma iniciativa importante que ocorreu nesse período foi o controle dos livros didáticos distribuídos<br />
pelo Ministério <strong>da</strong> Educação e Cultura (MEC), visando evitar a distribuição de livros contendo erros conceituais e<br />
representações negativas sobre determinados indivíduos e grupos. Mas, na opinião de Garcia, seria necessário<br />
exigir uma maior revisão nessas obras: "os livros didáticos precisariam abor<strong>da</strong>r a participação do povo negro na<br />
construção do país, na construção <strong>da</strong> riqueza nacional, na acumulação do capital e também as suas batalhas,<br />
rebeliões, quilombos e suas lutas mais cont<strong>em</strong>porâneas".<br />
Paula Cristina <strong>da</strong> Silva Barreto, professora <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Filosofia e Ciências Humanas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />
Federal <strong>da</strong> Bahia, destaca que, além dos livros didáticos, outro foco importante são as propostas de mu<strong>da</strong>nça<br />
na formação dos professores. "Foi tímido o trabalho feito pelo MEC nessa direção até o momento", critica a<br />
pesquisadora. Na avaliação dela, s<strong>em</strong> professores b<strong>em</strong> preparados para abor<strong>da</strong>r t<strong>em</strong>as complexos, como os<br />
abor<strong>da</strong>dos nos PCNs, "é muito difícil obter sucesso com a alteração curricular e existe uma grande<br />
probabili<strong>da</strong>de de que as escolas não coloqu<strong>em</strong> <strong>em</strong> prática o que foi proposto". Os baixos salários pagos e as<br />
condições de trabalho desanimadoras nas escolas são fatores também destacados pelos pesquisadores como<br />
possíveis responsáveis pelo pequeno envolvimento dos professores com propostas que visam abor<strong>da</strong>r a<br />
diversi<strong>da</strong>de étnica e probl<strong>em</strong>atizar a questão do negro no Brasil no interior <strong>da</strong>s escolas.<br />
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