Texto completo em PDF - Museu da Vida
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contrário. O verbo “assegurar” utilizado por Mônica Macedo nessa reportag<strong>em</strong> sobre<br />
clonag<strong>em</strong> é classificado por MARCUSCHI (1991, p. 89) como verbo indicador de posição<br />
oficial e afirmação positiva. No artigo <strong>em</strong> que classifica os verbos introdutores de opinião,<br />
MARCUSCHI (id<strong>em</strong>, pp. 79-80) analisa apenas o que ele chama de “discurso do poder”,<br />
subdividindo-o <strong>em</strong> “discurso oficial”, “discurso para-oficial” e “discurso <strong>da</strong> oposição”. No<br />
fragmento acima, como se trata <strong>da</strong> fala de um médico e pesquisador – que não<br />
necessariamente t<strong>em</strong> alguma relação com o poder oficial –, o verbo “assegurar” até pode ser<br />
visto como um indicador de afirmação positiva, mas também poderia estar entre os que<br />
MARCUSCHI chama de indicadores de força do argumento, já que nessa outra lista aparece o<br />
verbo “garantir”, pelo qual aquele utilizado pela jornalista no fragmento acima poderia ser<br />
permutado.<br />
(Reportag<strong>em</strong> 2 - Fragmento 8)<br />
“Estou maravilha<strong>da</strong> de ver que não sou a única. Fabricamos <strong>em</strong>briões clonados todos<br />
os dias”, afirma a pesquisadora [Brigitte Boisselier, <strong>da</strong> <strong>em</strong>presa Clonaid]. (grifo meu)<br />
No fragmento acima, o verbo <strong>em</strong> destaque também aparece entre os que<br />
MARCUSCHI classifica como indicadores de afirmações positivas (o que pode parecer uma<br />
redundância no caso do verbo “afirmar”) – poderíamos traduzir essa definição de Marcuschi<br />
como verbos que indicam força ou certeza <strong>da</strong>quilo que expressam. Ocorre que há uma<br />
gra<strong>da</strong>ção – ain<strong>da</strong> que sutil – <strong>da</strong> força de expressão de ca<strong>da</strong> um dos verbos que o autor lista<br />
nessa classificação. Ele próprio reconhece que essas “classes poderiam ser subdividi<strong>da</strong>s ou<br />
reagrupa<strong>da</strong>s <strong>em</strong> outras mais explícitas, de acordo com os tipos de discurso abor<strong>da</strong>dos” (id<strong>em</strong>,<br />
p. 89). S<strong>em</strong> me aventurar a propor essa subdivisão, eu diria apenas que o verbo “afirmar” é<br />
mais incisivo – ou afirmativo, se preferirmos ser redun<strong>da</strong>ntes – que “comunicar” e “informar”<br />
(que também aparec<strong>em</strong> nessa lista), e menos enfático que “assegurar”.<br />
Como vimos acima, na análise dos primeiros quatro fragmentos apresentados neste<br />
capítulo, no processo de seleção (de falas, de palavras, <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de ocorrência no texto)<br />
pod<strong>em</strong> ser percebi<strong>da</strong>s as escolhas que denotam juízos de valor e desvelam o caráter subjetivo<br />
do discurso. BAKHTIN (1997, p. 355) considera que o observador (seja ele um cientista ou<br />
um jornalista) “não se situa <strong>em</strong> parte alguma fora do mundo observado, e a sua observação é<br />
parte integrante do objeto observado”. Segundo ele, “isto é inteiramente válido para o todo do<br />
enunciado e para a relação que ele estabelece”. Rosa Nívea PEDROSO (1979, p. 46) observa<br />
que “a análise do design informativo e do léxico do jornal/revista indica as restrições e as<br />
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