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Texto completo em PDF - Museu da Vida

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Segundo Manica, atualmente, os folhetos de laboratórios e alguns médicos, como Elsimar<br />

Coutinho, professor de Saúde Materno-Infantil <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia,<br />

afirmam que a menstruação não é natural, mas cultural ou social. De acordo com esse<br />

médico, até o início do século XX, as mulheres menstruavam menos do que atualmente,<br />

pois estavam s<strong>em</strong>pre grávi<strong>da</strong>s ou amamentando devido ao menor controle <strong>da</strong> fertili<strong>da</strong>de.<br />

Ain<strong>da</strong> segundo os argumentos de Coutinho recuperados pela pesquisa, as menstruações<br />

sucessivas teriam sido trazi<strong>da</strong>s pela contracepção, um advento <strong>da</strong> civilização, o que deu<br />

marg<strong>em</strong> a maior ocorrência de várias doenças como endometriose, an<strong>em</strong>ias ou TPM.<br />

Nesse discurso, a administração de contraceptivos hormonais para supressão <strong>da</strong><br />

menstruação teria o papel benéfico de evitar doenças. A pesquisadora aponta que, nesse<br />

caso, a menstruação é pensa<strong>da</strong> como um produto cultural, e a sua supressão, ao<br />

contrário do que outros defend<strong>em</strong>, como uma forma de imitar o que aconteceria na<br />

natureza.<br />

A pesquisadora enfatiza que esses ex<strong>em</strong>plos apontam para o uso dos conceitos de<br />

natureza e cultura para falar do ser humano e <strong>da</strong> sua ação sobre o mundo. No entanto,<br />

chama a atenção para o fato de que a relação entre natureza e cultura implica<br />

ambigüi<strong>da</strong>des, pois, no caso, a menstruação pode ser entendi<strong>da</strong> tanto como natural<br />

quanto cultural. "Ao se considerar a menstruação como cultural e sua ausência como<br />

natural, cai-se numa ambigüi<strong>da</strong>de: para mimetizar a natureza, é preciso utilizar-se dos<br />

contraceptivos hormonais, entendidos como artificiais, resultantes <strong>da</strong> ação humana e<br />

cultural", afirma Manica. Para ela, o importante não é definir se a menstruação é de fato<br />

natural ou cultural, e sim procurar compreender como as distinções entre natureza e<br />

cultura são aciona<strong>da</strong>s pelos sujeitos estu<strong>da</strong>dos <strong>em</strong> sua pesquisa, tendo <strong>em</strong> vista o<br />

contexto de surgimento dos contraceptivos que propõ<strong>em</strong> a supressão dos sangramentos<br />

menstruais.<br />

A atuali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pesquisa desenvolvi<strong>da</strong> relaciona-se com um debate ca<strong>da</strong> vez mais<br />

presente nas ciências humanas, pois <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos de com<strong>em</strong>oração dos 50 anos <strong>da</strong><br />

formulação <strong>da</strong> estrutura do DNA <strong>em</strong> dupla hélice, uma série de t<strong>em</strong>as debatidos<br />

historicamente pelas ciências humanas adquir<strong>em</strong> novo fôlego. Mas a <strong>da</strong>ta não é a única<br />

fonte para rediscussão sobre o hom<strong>em</strong> (e do que é humano) ou <strong>da</strong>s fronteiras entre<br />

natureza e cultura. Tais t<strong>em</strong>as adquir<strong>em</strong> agora maior visibili<strong>da</strong>de num debate<br />

reestabelecido na última déca<strong>da</strong>, influenciado pelos avanços <strong>da</strong> nanociência e <strong>da</strong>s<br />

biotecnologias, e pela centrali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> física, <strong>da</strong> biologia e <strong>da</strong> economia na produção do<br />

conhecimento e <strong>da</strong>s novas tecnologias.<br />

Endometriose significa a presença de<br />

endométrio - cama<strong>da</strong> interna do útero que é<br />

elimina<strong>da</strong> no fluxo menstrual - <strong>em</strong> outros<br />

locais, como ovários, as trompas de falópio e<br />

os ligamentos que sustentam o útero, podendo<br />

atingir o intestino, bexiga ou a vagina. A<br />

doença provoca dores pélvicas crônicas,<br />

dificul<strong>da</strong>de para engravi<strong>da</strong>r, dores durante a<br />

relação sexual, além de alterações urinárias e<br />

intestinais no período de menstruação.<br />

Atualizado <strong>em</strong> 21/03/03<br />

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