Texto completo em PDF - Museu da Vida
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Com Ciência: A senhora considera o anúncio <strong>da</strong> ACT irresponsável?<br />
Zatz: Acho que ele gerou uma reação contrária enorme. Mas é uma ilusão achar<br />
que vamos parar esse processo [<strong>da</strong> clonag<strong>em</strong> humana]. Ele não vai parar. É<br />
melhor aprová-lo e fazer as pesquisas de forma controla<strong>da</strong>, do que proibir e as<br />
pesquisas continuar<strong>em</strong> "por baixo do pano". Outra coisa é que exist<strong>em</strong> muito<br />
ex<strong>em</strong>plos de avanços científicos que são usados para o b<strong>em</strong> e para o mal. A<br />
energia atômica é uma delas. E <strong>da</strong>í a questão: será que vale a pena correr o risco<br />
de termos uma tecnologia que pode ser desenvolvi<strong>da</strong> para a clonag<strong>em</strong><br />
terapêutica, mas pode ser usa<strong>da</strong> também para a clonag<strong>em</strong> humana? Eu acho que<br />
vale a pena a gente correr este risco porque diferent<strong>em</strong>ente <strong>da</strong> energia atômica,<br />
que pode causar um desastre geral, a clonag<strong>em</strong> reprodutiva nunca vai acontecer<br />
<strong>em</strong> larga escala.<br />
Com Ciência: Por que? O procedimento é d<strong>em</strong>asiado caro?<br />
Zatz: É caro. A própria fertilização assisti<strong>da</strong> é uma coisa que n<strong>em</strong> todo mundo<br />
pode pagar. A gente sabe que é uma tecnologia que nunca vai ser acessível a<br />
todos e nunca vai ser feita <strong>em</strong> grande escala.<br />
Com Ciência: Com a tecnologia que existe hoje estamos próximo do clone humano?<br />
Zatz: Eu acho que não. Agora, entre fazer um clone humano e uma pessoa normal, isso sim é que é a grande<br />
pergunta. Eu acho que mesmo hoje, o risco de se ter uma criança com probl<strong>em</strong>as ain<strong>da</strong> exist<strong>em</strong>. Não vou n<strong>em</strong><br />
falar <strong>em</strong> más-formações, pois estas são detecta<strong>da</strong>s logo nos primeiros meses de gestação. O que eu acho mais<br />
preocupante são algumas doenças que pod<strong>em</strong> aparecer mais tarde e que pod<strong>em</strong> ser muito graves. Nós, que<br />
trabalhamos com doenças neurodegenerativas, sab<strong>em</strong>os que exist<strong>em</strong> dezenas de doenças que se manifestam<br />
depois do nascimento. O aspecto do bebê é absolutamente normal, mas na reali<strong>da</strong>de ele t<strong>em</strong> alguma mutação<br />
gravíssima que o leva a morte na primeira déca<strong>da</strong>, ou na segun<strong>da</strong> ou até um pouco mais tarde. Esse é o<br />
grande perigo.<br />
Com Ciência: Com relação à legislação brasileira, a senhora acha que ela está adequa<strong>da</strong>?<br />
Zatz: Ela está radicalizando [o assunto]. Quer dizer, é absolutamente contra a clonag<strong>em</strong> reprodutiva (o que eu<br />
acho que também está acontecendo internacionalmente). Agora já estão querendo proibir qualquer pesquisa<br />
com células <strong>em</strong>brionárias. Há uma proposta de lei que diz que se depois de 5 anos um casal que tivesse<br />
<strong>em</strong>briões <strong>em</strong> uma clínica e não os quisesse mais, os <strong>em</strong>briões ficariam sob responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> clínica, mas<br />
nunca poderiam ser usados para experiências, <strong>em</strong>bora possam ser usados para adoção. Quer dizer... tratam de<br />
um amontoado de células como tratam de uma criança! Qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> um filho com uma doença genética está<br />
desesperado para que as pesquisas [com células-tronco] realmente possam acontecer. O que está faltando é o<br />
que eu disse para os m<strong>em</strong>bros <strong>da</strong> associação contra a atrofia muscular que fundei: "Vocês como pessoas, como<br />
pais de filhos afetados, como pessoas que têm essa doença na família, precisam buscar a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> imprensa,<br />
precisam mostrar para o pessoal que faz as leis que esta tecnologia pode salvar vi<strong>da</strong>s!" Exist<strong>em</strong> inúmeras<br />
doenças genéticas que poderiam ser cura<strong>da</strong>s com a tecnologia [de células-tronco]... Eu acho que falta a<br />
imprensa conversar com as pessoas que conviv<strong>em</strong> com pessoas afeta<strong>da</strong>s, ouvi-las e parar para pensar: "Puxa,<br />
eu não pensei nisso! Se eu tivesse um filho com um probl<strong>em</strong>a desses eu faria qualquer coisa!"<br />
Com Ciência: Exist<strong>em</strong> outras técnicas, que substituam a clonag<strong>em</strong> de <strong>em</strong>briões para a obtenção de<br />
células-tronco?<br />
Zatz: Há. O que eu acho hoje mais promissor é o uso de células-tronco de cordão umbilical. Da medula<br />
também é possível, <strong>em</strong>bora dela seja mais dificil de se obter [células-tronco] do que do cordão umbilical.<br />
Com Ciência: O material genético do <strong>em</strong>brião clonado de uma célula de um adulto pode ser<br />
considerado "velho"? A quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s células-tronco deste <strong>em</strong>brião é a mesma <strong>da</strong>quelas vin<strong>da</strong>s de<br />
uma fecun<strong>da</strong>ção natural?<br />
Zatz: Isto não sab<strong>em</strong>os.<br />
Com Ciência: Parece que hoje há tantas perguntas, que ain<strong>da</strong> não pod<strong>em</strong>os afirmar quais são as<br />
técnicas eficientes ou não.<br />
Zatz: T<strong>em</strong>os que responder ain<strong>da</strong> muitas perguntas. Pode ser que <strong>da</strong>qui a trinta, cinqüenta anos, a gente<br />
possa afirmar que não é seguro fazer clonag<strong>em</strong> humana. Ou então poder<strong>em</strong>os afirmar que não há risco<br />
genético, o probl<strong>em</strong>a é só ético. E aí vai <strong>da</strong> cabeça de ca<strong>da</strong> um, ninguém t<strong>em</strong> na<strong>da</strong> a ver com isso.<br />
Com Ciência: Qual a i<strong>da</strong>de real de um animal clonado a partir de um adulto? É a i<strong>da</strong>de de seus<br />
genes?<br />
Zatz: Esta é uma outra questão <strong>em</strong> aberto. Ain<strong>da</strong> não sab<strong>em</strong>os responder. A i<strong>da</strong>de de um animal é medi<strong>da</strong><br />
pelo tamanho dos telômeros, que ficam na pontinha dos cromossomos. Sab<strong>em</strong>os que eles diminu<strong>em</strong> de<br />
tamanho conforme a célula vai envelhecendo. O que aconteceu na ovelha Dolly foi que ela tinha os telômeros<br />
diminuídos desde que nasceu. Aí se conclui que ela já tinha uma i<strong>da</strong>de mais avança<strong>da</strong>. Mas <strong>em</strong> outros modelos<br />
animais, de bezerros clonados, por ex<strong>em</strong>plo, não foram observados telômeros diminuídos.