14.04.2013 Views

Texto completo em PDF - Museu da Vida

Texto completo em PDF - Museu da Vida

Texto completo em PDF - Museu da Vida

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

141<br />

Com Ciência: A senhora considera o anúncio <strong>da</strong> ACT irresponsável?<br />

Zatz: Acho que ele gerou uma reação contrária enorme. Mas é uma ilusão achar<br />

que vamos parar esse processo [<strong>da</strong> clonag<strong>em</strong> humana]. Ele não vai parar. É<br />

melhor aprová-lo e fazer as pesquisas de forma controla<strong>da</strong>, do que proibir e as<br />

pesquisas continuar<strong>em</strong> "por baixo do pano". Outra coisa é que exist<strong>em</strong> muito<br />

ex<strong>em</strong>plos de avanços científicos que são usados para o b<strong>em</strong> e para o mal. A<br />

energia atômica é uma delas. E <strong>da</strong>í a questão: será que vale a pena correr o risco<br />

de termos uma tecnologia que pode ser desenvolvi<strong>da</strong> para a clonag<strong>em</strong><br />

terapêutica, mas pode ser usa<strong>da</strong> também para a clonag<strong>em</strong> humana? Eu acho que<br />

vale a pena a gente correr este risco porque diferent<strong>em</strong>ente <strong>da</strong> energia atômica,<br />

que pode causar um desastre geral, a clonag<strong>em</strong> reprodutiva nunca vai acontecer<br />

<strong>em</strong> larga escala.<br />

Com Ciência: Por que? O procedimento é d<strong>em</strong>asiado caro?<br />

Zatz: É caro. A própria fertilização assisti<strong>da</strong> é uma coisa que n<strong>em</strong> todo mundo<br />

pode pagar. A gente sabe que é uma tecnologia que nunca vai ser acessível a<br />

todos e nunca vai ser feita <strong>em</strong> grande escala.<br />

Com Ciência: Com a tecnologia que existe hoje estamos próximo do clone humano?<br />

Zatz: Eu acho que não. Agora, entre fazer um clone humano e uma pessoa normal, isso sim é que é a grande<br />

pergunta. Eu acho que mesmo hoje, o risco de se ter uma criança com probl<strong>em</strong>as ain<strong>da</strong> exist<strong>em</strong>. Não vou n<strong>em</strong><br />

falar <strong>em</strong> más-formações, pois estas são detecta<strong>da</strong>s logo nos primeiros meses de gestação. O que eu acho mais<br />

preocupante são algumas doenças que pod<strong>em</strong> aparecer mais tarde e que pod<strong>em</strong> ser muito graves. Nós, que<br />

trabalhamos com doenças neurodegenerativas, sab<strong>em</strong>os que exist<strong>em</strong> dezenas de doenças que se manifestam<br />

depois do nascimento. O aspecto do bebê é absolutamente normal, mas na reali<strong>da</strong>de ele t<strong>em</strong> alguma mutação<br />

gravíssima que o leva a morte na primeira déca<strong>da</strong>, ou na segun<strong>da</strong> ou até um pouco mais tarde. Esse é o<br />

grande perigo.<br />

Com Ciência: Com relação à legislação brasileira, a senhora acha que ela está adequa<strong>da</strong>?<br />

Zatz: Ela está radicalizando [o assunto]. Quer dizer, é absolutamente contra a clonag<strong>em</strong> reprodutiva (o que eu<br />

acho que também está acontecendo internacionalmente). Agora já estão querendo proibir qualquer pesquisa<br />

com células <strong>em</strong>brionárias. Há uma proposta de lei que diz que se depois de 5 anos um casal que tivesse<br />

<strong>em</strong>briões <strong>em</strong> uma clínica e não os quisesse mais, os <strong>em</strong>briões ficariam sob responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> clínica, mas<br />

nunca poderiam ser usados para experiências, <strong>em</strong>bora possam ser usados para adoção. Quer dizer... tratam de<br />

um amontoado de células como tratam de uma criança! Qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> um filho com uma doença genética está<br />

desesperado para que as pesquisas [com células-tronco] realmente possam acontecer. O que está faltando é o<br />

que eu disse para os m<strong>em</strong>bros <strong>da</strong> associação contra a atrofia muscular que fundei: "Vocês como pessoas, como<br />

pais de filhos afetados, como pessoas que têm essa doença na família, precisam buscar a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> imprensa,<br />

precisam mostrar para o pessoal que faz as leis que esta tecnologia pode salvar vi<strong>da</strong>s!" Exist<strong>em</strong> inúmeras<br />

doenças genéticas que poderiam ser cura<strong>da</strong>s com a tecnologia [de células-tronco]... Eu acho que falta a<br />

imprensa conversar com as pessoas que conviv<strong>em</strong> com pessoas afeta<strong>da</strong>s, ouvi-las e parar para pensar: "Puxa,<br />

eu não pensei nisso! Se eu tivesse um filho com um probl<strong>em</strong>a desses eu faria qualquer coisa!"<br />

Com Ciência: Exist<strong>em</strong> outras técnicas, que substituam a clonag<strong>em</strong> de <strong>em</strong>briões para a obtenção de<br />

células-tronco?<br />

Zatz: Há. O que eu acho hoje mais promissor é o uso de células-tronco de cordão umbilical. Da medula<br />

também é possível, <strong>em</strong>bora dela seja mais dificil de se obter [células-tronco] do que do cordão umbilical.<br />

Com Ciência: O material genético do <strong>em</strong>brião clonado de uma célula de um adulto pode ser<br />

considerado "velho"? A quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s células-tronco deste <strong>em</strong>brião é a mesma <strong>da</strong>quelas vin<strong>da</strong>s de<br />

uma fecun<strong>da</strong>ção natural?<br />

Zatz: Isto não sab<strong>em</strong>os.<br />

Com Ciência: Parece que hoje há tantas perguntas, que ain<strong>da</strong> não pod<strong>em</strong>os afirmar quais são as<br />

técnicas eficientes ou não.<br />

Zatz: T<strong>em</strong>os que responder ain<strong>da</strong> muitas perguntas. Pode ser que <strong>da</strong>qui a trinta, cinqüenta anos, a gente<br />

possa afirmar que não é seguro fazer clonag<strong>em</strong> humana. Ou então poder<strong>em</strong>os afirmar que não há risco<br />

genético, o probl<strong>em</strong>a é só ético. E aí vai <strong>da</strong> cabeça de ca<strong>da</strong> um, ninguém t<strong>em</strong> na<strong>da</strong> a ver com isso.<br />

Com Ciência: Qual a i<strong>da</strong>de real de um animal clonado a partir de um adulto? É a i<strong>da</strong>de de seus<br />

genes?<br />

Zatz: Esta é uma outra questão <strong>em</strong> aberto. Ain<strong>da</strong> não sab<strong>em</strong>os responder. A i<strong>da</strong>de de um animal é medi<strong>da</strong><br />

pelo tamanho dos telômeros, que ficam na pontinha dos cromossomos. Sab<strong>em</strong>os que eles diminu<strong>em</strong> de<br />

tamanho conforme a célula vai envelhecendo. O que aconteceu na ovelha Dolly foi que ela tinha os telômeros<br />

diminuídos desde que nasceu. Aí se conclui que ela já tinha uma i<strong>da</strong>de mais avança<strong>da</strong>. Mas <strong>em</strong> outros modelos<br />

animais, de bezerros clonados, por ex<strong>em</strong>plo, não foram observados telômeros diminuídos.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!