Texto completo em PDF - Museu da Vida
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Socie<strong>da</strong>de Brasileira para o Progresso <strong>da</strong> Ciência (SBPC), volta<strong>da</strong> para o público não<br />
especializado. Em sua análise, Gomes afirma que nos artigos do corpus avaliado, os cientistas<br />
geralmente não consideram o público alvo do veículo, porque eles reproduz<strong>em</strong> a estrutura<br />
lingüística do texto acadêmico, com vocabulário técnico, <strong>em</strong> geral, inacessível aos leitores<br />
não especializados na área que está sendo divulga<strong>da</strong>.<br />
Um texto publicado na Ciência Hoje e escrito por um cientista também foi objeto de<br />
estudo <strong>da</strong> pesquisadora Lilian Zamboni, como parte de sua tese de doutorado no Instituto de<br />
Estudos <strong>da</strong> Linguag<strong>em</strong> (IEL) <strong>da</strong> Unicamp. A análise de Zamboni mostra que não se pode<br />
generalizar quanto à avaliação dos discursos de divulgação produzidos por cientistas, <strong>em</strong><br />
cujas condições de produção se inclu<strong>em</strong> o veículo onde eles são publicados e o público para o<br />
qual eles são voltados. O texto de Ciência Hoje (um dos quatro veículos analisados por<br />
Zamboni), que integra o corpus de seu estudo, t<strong>em</strong> <strong>em</strong> seus quatro parágrafos iniciais uma<br />
recuperação de conhecimentos tácitos <strong>da</strong> área t<strong>em</strong>ática do artigo como um todo. Segundo a<br />
pesquisadora do IEL, esse espaço no texto dedicado a conhecimentos que não são mais<br />
sujeitos a comprovação ou contestação sinaliza que “o autor t<strong>em</strong> de seus prováveis leitores a<br />
representação de não-pares, ou seja, pod<strong>em</strong> ser todos os d<strong>em</strong>ais leitores <strong>em</strong> potencial,<br />
excluídos os especialistas na mesma matéria <strong>em</strong> que ele atua” (ZAMBONI, 2001, p. 99).<br />
Outro texto analisado por Zamboni, <strong>da</strong> revista Globo Ciência, utiliza, segundo ela,<br />
recursos gráficos e textuais para despertar o interesse do leitor pela informação científica. A<br />
matéria analisa<strong>da</strong>, sobre alergia, apresenta imagens com as quais o leitor pode se identificar –<br />
como a de uma jov<strong>em</strong> espirrando –, acompanha<strong>da</strong>s por um texto que começa associando a<br />
chega<strong>da</strong> do inverno ao sofrimento <strong>da</strong>s pessoas alérgicas. O parágrafo inicial <strong>da</strong> reportag<strong>em</strong><br />
diz que os alérgicos representam 20% <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. A seqüência do texto menciona<br />
personali<strong>da</strong>des ilustres vítimas de alergia, como o então presidente dos Estados Unidos Bill<br />
Clinton, o escritor francês Marcel Proust e o ex-presidente brasileiro Fernando Collor.<br />
ZAMBONI diz que os el<strong>em</strong>entos informativos se organizam dessa forma na reportag<strong>em</strong> “para<br />
cumprir a função conativa de cativar o leitor para a leitura <strong>da</strong> matéria” (id<strong>em</strong>, p. 103).<br />
Nesta dissertação, eu me proponho a analisar o discurso de divulgação científica não a<br />
partir do confronto de textos de cientistas e não-cientistas ou de cientistas e jornalistas, como<br />
o faz Isaltina Gomes, mas pela observação do que há <strong>em</strong> comum e o que há de específico <strong>em</strong><br />
diferentes gêneros do discurso que transitam pelo campo <strong>da</strong> divulgação científica, permitindo-<br />
me discor<strong>da</strong>r de Lilian Zamboni no que diz respeito a considerar a divulgação científica como<br />
um todo como sendo um gênero específico do discurso. Apresento essa discussão no capítulo<br />
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