15.04.2013 Views

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Humor e forma: jogos métricos em Amores 1.1, de<br />

Ovídio<br />

127<br />

Liebert de Abreu Muniz 190<br />

Dentre os poetas augusta<strong>no</strong>s, Ovídio, indubitavelmente, é o mais controverso<br />

e complexo. Se Virgílio foi o grande poeta augusta<strong>no</strong> do gênero épico, Horácio<br />

da sátira e da lírica, e Propércio da elegia, o que poderíamos dizer sobre Ovídio?<br />

Foi um poeta elegíaco? Um poeta épico? Ele foi as duas coisas ou algo entre um<br />

poeta épico e elegíaco? Como bem observou Joseph Farrell 191 , desde o começo<br />

de sua carreira, Ovídio parece se apresentar como elegista, e, à primeira vista,<br />

por diversos ângulos, parece difícil discordar do poeta. A questão, porém, torna-<br />

-se complexa quando pensamos que sua obra mais infl uente e mais famosa não<br />

foi uma elegia, mas, metricamente falando, um poema épico, As Metamorfoses.<br />

Ademais, a elegia de Ovídio parece não ter encontrado paralelo em nenhum dos<br />

seus predecessores.<br />

O texto de abertura de sua primeira coleção, Amores 1.1, tem muito a dizer<br />

sobre as suas escolhas e posturas; tem muito a dizer também sobre a possível<br />

carreira poética ovidiana, e a natureza de muitas de suas composições. 192 E é exatamente<br />

nesse poema de abertura, programático, que <strong>no</strong>s deteremos, ensejando<br />

demonstrar que o metro não é uma mera forma, de natureza simplesmente inerte,<br />

mas é capaz de comunicar sentidos como qualquer outro elemento de composição,<br />

e, por essa razão, não é me<strong>no</strong>s suscetível ao jogo literário, como, por exemplo, em<br />

questões de gênero. E essa elegia de Ovídio, Amores 1.1, como todas as outras são<br />

capazes de produzir muitos tipos de efeitos formais.<br />

Platão, por meio de sua personagem Sócrates, teria sugerido que três podem<br />

ser os modos de expressão poética: a narrativa simples, a representação dramática<br />

e a mistura dessas duas (República 394c). Aristóteles reduziu os modos a dois,<br />

narrativa e representação dramática, enumerando-os entre os critérios de meio –<br />

cores, ritmo, metro –, objeto – tema – e maneira – por qual modo o autor vai imitar<br />

(Poética 1447a-1448b). Por trás das perspectivas de Platão e Aristóteles subjaz<br />

190Mestrando em Letras pela Universidade Federal do Ceará – UFC, Brasil. e-<br />

-mail: liebertmuniz@yahoo.com.br. O autor agradece à Fundação Cearense de<br />

Apoio ao Desenvolvimento Científi co – FUNCAP a bolsa de mestrado concedida.<br />

191 FARRELL, Joseph. ‘Ovid’s Generic Transformations’. In Peter K<strong>no</strong>x (Ed.) A Companion<br />

to Ovid. Blackwell, 2009, p. 370-80.<br />

192 Cf. também Booth, Joan. ‘The Amores: Ovid Making Love’. In Peter K<strong>no</strong>x (Ed.) A<br />

Companion to Ovid. Blackwell, 2009, p. 61-77; Boyd, Barbara W. ‘The Amores: The Invention<br />

of Ovid’. In B. W. Boyd (Ed.) Brill’s Companion to Ovid. Brill, 2002, p. 91-116.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!