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O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

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tico o episódio da κουφολογία de Cleão (Thc. 4.28.5), que o teria tornado alvo de<br />

escárnio público.<br />

O historiador detestava Cleão 122 , cujas atitudes por vezes vincula a fanfarronices<br />

violentas ou insanas (Thc. 3.36.6, 4.22.2 e 4.39.3: μανιώδης). O demagogo<br />

ateniense se opusera a um acordo para encerrar o confl ito com os esparta<strong>no</strong>s sitiados<br />

em Pilos (425 a.C.), o que obrigou seus concidadãos a consideráveis esforços<br />

para a manutenção de um cerco prolongado. Quando mensageiros relatam aos atenienses<br />

as difi culdades de suas tropas, o que punha em xeque o prestígio de Cleão,<br />

este tenta desmenti-los; ante a sugestão para que se mandassem inspetores a Pilos,<br />

e dentre eles o próprio Cleão, o demagogo percebe o perigo: seria obrigado a confi<br />

rmar aquelas informações ou a arcar com uma acusação de calúnia. Percebendo<br />

que os atenienses se inclinavam por organizar uma expedição, instou-os a fazê-lo<br />

com presteza. “Apontando para Nícias, fi lho de Nicérato, estratego e seu inimigo,<br />

a quem censurava, disse que seria fácil a empreitada se os estrategos fossem homens<br />

(…), e que ele próprio a levaria a termo” (Thc. 4.27.5). Diante da agitação<br />

popular e das invectivas de Cleão, Nícias prontifi cou-se a entregar-lhe o comando.<br />

Cleão simulou estar pronto a aceitar, julgando que Nícias não falava a sério, mas<br />

quando se deu conta de que Nícias não fi ngia, tentou se esquivar alegando que o<br />

comando, de fato, era de Nícias, não seu. Nícias insistia para que fosse, afi rmando<br />

que renunciava ao posto; quanto mais Cleão tentava se desvencilhar, tanto mais a<br />

multidão o instigava. Sem ter como escapar da própria armadilha, aceitou o cargo<br />

e, dentre outras bravatas, prometeu que em vinte dias traria os lacedemônios vivos<br />

ou os mataria em batalha.<br />

“Os atenienses caíram na gargalhada (ἐνέπεσε μέν τι καὶ γέλωτος)<br />

com sua leviandade (κουφολογίᾳ), mas os homens sensatos fi caram alegres<br />

(ἀσμένοις), calculando que de duas vantagens uma obteriam: ou se livrariam<br />

de Cleão (o que mais desejavam), ou deitariam mãos aos lacedemônios,<br />

a despeito do que supunham” (Thc. 4.28.5).<br />

Contra toda probabilidade, porém, Cleão foi bem sucedido na empreitada, e<br />

paralelamente ao ridículo e insensato da proposta Tucídides destaca seu resultado<br />

inimaginado (4.40.1: παρὰ γνώμην τε δὴ μάλιστα).<br />

Durante a segunda metade do século IV a.C., devido parte à infl uência crescente<br />

dos sobera<strong>no</strong>s macedônios sobre a Grécia, parte ao aprofundamento da<br />

investigação fi losófi ca sobre o ᾖθος desde Sócrates, ética e/ou retórica, parte à<br />

122 Sobre a aversão do historiador por Cleão, veja-se a introdução de P. J. Rhodes a<br />

Thucydides, The Peloponesian war, translated by M. Hammond, with an introduction and<br />

<strong>no</strong>tes by P. J. Rhodes, Oxford, University Press, 2009, p. xxv.<br />

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