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O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

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tamente Aristófanes. Para isso, teríamos que estar em Atenas, em ple<strong>no</strong> século V<br />

a. C., e, preferencialmente, sermos cidadãos atenienses da mesma época. Tudo<br />

o que temos é a certeza de estarmos diante de um gênio cômico com uma mente<br />

excepcional.<br />

Qual um gênio, Aristófanes estava sujeito a ser incompreendido, principalmente<br />

quando superestimava o interesse e a capacidade intelectual dos seus espectadores,<br />

como o caso ocorrido com a peça As Nuvens. Aqueles que compareciam<br />

ao teatro seriam mesmo “espectadores sagazes” e teriam condições de compreender<br />

“a mais engenhosa” de suas comédias? (As Nuvens, vv. 521-2).<br />

Segundo MacDowell 306 , os espectadores não iam ao teatro para assistir a<br />

uma sequência de piadas, mas a uma performance na sua forma tradicional, incluindo<br />

elementos musicais e religiosos, como também obscenidades e exposição<br />

ao ridículo de membros de sua própria comunidade.<br />

Ao escrever uma peça, Aristófanes não queria apenas fazer o público rir,<br />

mas tentava levar aos espectadores algum assunto sério e, quem sabe, de alguma<br />

forma, infl uenciá-los com as suas ideias. E como um bom poeta, também mostrava<br />

seu talento, levando <strong>no</strong>vidades à comédia, nunca iguais e sempre inspiradas (As<br />

Nuvens, vv. 547-8).<br />

Jaeger 307 afi rma que “a concepção do poeta como educador do seu povo – <strong>no</strong><br />

sentido mais amplo e profundo da palavra – foi familiar aos Gregos desde a sua<br />

origem e manteve sempre a sua importância”. Homero foi o exemplo clássico desta<br />

concepção; mais tarde, outros poetas continuariam seu trabalho.<br />

Aristófanes pretendia, de todas as formas, abrir os olhos do povo, que parecia<br />

“adormecido” e era sempre ludibriado pelos políticos. Em Os Cavaleiros, o<br />

próprio personagem Povo (Demos) diz: “Por minha parte, gosto da minha papinha<br />

todos os dias, e estou disposto a sustentar um ladrão de um chefe político” (vv.<br />

1125-6).<br />

Aqueles cidadãos que aclamaram a peça Os Cavaleiros, de Aristófanes,<br />

como vencedora <strong>no</strong> Festival das Lenéias, de 424 a. C. e dessa forma, apoiaram a<br />

investida do poeta contra Cléon, eram os mesmos que há pouco haviam recebido o<br />

demagogo como herói. Todos sabiam que a conquista ateniense na ilha de Pilos se<br />

consolidara por causa de um pla<strong>no</strong> estratégico de inteira responsabilidade do general<br />

Demóstenes e que Cléon havia tomado para si os louros da vitória, ganhando<br />

assim apoio das massas populares.<br />

306 D.M. MacDowell, Aristophanes and Athens: an introduction to the plays, Oxford, Oxford<br />

University Press, 1995, p. 26.<br />

307 W.W. Jaeger, Paideia: a formação do homem grego. Trad. de A.M. Parreira, [adap. do<br />

texto para a ed. brasileira M. Stahel; rev. do texto grego G.C.C. Souza]. 5. ed. São Paulo,<br />

Martins Fontes, 2010, p. 61.<br />

198

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