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O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

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[...] nunca o poeta prescreveu a abolição pura e simples da vulgaridade;<br />

através dela Aristófanes dirigia-se a uma parcela importante<br />

do seu auditório [...]. Se talentoso, o poeta podia mesmo regressar a esse<br />

patrimônio, explorar as suas potencialidades, condimentá-los com <strong>no</strong>vos<br />

aromas e voltar a servi-lo com um paladar re<strong>no</strong>vado.<br />

Para compreendermos uma produção cômica como um todo, devemos ter<br />

em mente que uma comédia era composta de acordo com um esquema, pois, em<br />

geral, as peças, ao me<strong>no</strong>s as que <strong>no</strong>s restaram de Aristófanes, apresentam a trama<br />

desenvolvida basicamente nas seguintes seções: prólogo, párodo, agón, parábase,<br />

episódios e êxodo.<br />

O exercício do poeta, portanto, consistia em compor o enredo, de acordo<br />

com a convenção teatral de seu tempo, devendo ser observado que as seções que<br />

dividiam uma comédia marcavam não só a parte composicional do drama, mas<br />

também sua encenação, pois a transição entre as partes ditava o ritmo da peça.<br />

A difi culdade em se compor uma peça cômica é muito bem explicitada em<br />

um trecho da comédia de Antífanes intitulada Poíesis. No fragmento, o poeta<br />

apresenta-<strong>no</strong>s a ideia de que a criação de enredos cômicos era algo mais complexo<br />

do que a composição de uma tragédia, que recorria a mitos conhecidos, pois, <strong>no</strong><br />

drama cômico, era necessário i<strong>no</strong>var em tudo, apresentando personagens, tramas<br />

e situações inéditas:<br />

a tragédia é uma criação afortunada<br />

em face das outras, primeiramente porque as histórias são<br />

conhecidas dos espectadores,<br />

antes que se fale algo, de tal modo que somente é necessário<br />

que o poeta [os] faça lembrar [...]<br />

então, quando não podem falar mais nada,<br />

e por completo não conseguem dar sequência às ações<br />

levantam a máquina, como se fosse um dedo,<br />

e isso é sufi ciente para os espectadores.<br />

Mas não é a mesma coisa com relação a nós, pois é necessário tudo<br />

inventar: <strong>no</strong>mes <strong>no</strong>vos, e depois a organização das partes precedentes,<br />

as circunstâncias presentes, a reviravolta,<br />

o prólogo. Caso negligenciem uma dessas coisas<br />

um Cremes ou um Fidão, eles são expulsos com vaias.<br />

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