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O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

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injusto contra ele próprio.<br />

Traçando um paralelo entre os personagens principais dessa comédia: Estrepsíades<br />

e Sócrates, é possível ver quão opostos os dois são. Enquanto o primeiro<br />

está ligado à natureza com seu corpo em ple<strong>no</strong> movimento: ereção, ingestão,<br />

excreção, fl atulência; o segundo, por sua vez, deseja tanto separar-se da terra, que<br />

até usa o artifício de fi car suspenso em um cesto, a fi m de elevar o seu pensamento.<br />

No diálogo Fédon, de Platão 309 , Sócrates fala sobre a relação do fi lósofo com<br />

os prazeres corporais:<br />

SÓCRATES<br />

Julgas provável que um fi lósofo se importe muito com os chamados<br />

prazeres, tais como o de comer e de beber?<br />

SÍMIAS<br />

De modo algum, Sócrates.<br />

SÓCRATES<br />

E quanto aos prazeres do sexo?<br />

SÍMIAS<br />

Certamente não.<br />

(...)<br />

SÓCRATES<br />

Julgas que tal homem não se devotaria ao corpo, mas se afastaria,<br />

tanto quanto fosse capaz, do corpo para se preocupar com a alma?<br />

SÍMIAS<br />

Julgo.<br />

Bem distante disso, <strong>no</strong>sso protagonista, Estrepsíades, carrega consigo toda a<br />

simbologia da comédia. No início da peça As Nuvens, se queixa de tudo que deixou<br />

<strong>no</strong> campo: “uma vida rústica, agradabilíssima, embolorado, sujo e à vontade,<br />

regorgitando de abelhas, de rebanhos e de bagaço de azeitona...” (vv.43-5). O velho,<br />

empurrado para a cidade, encontra-se agora cheio de dívidas, todas contraídas<br />

na tentativa de satisfazer os desejos de seu fi lho, um rapaz alucinado por cavalos.<br />

Seu antagonista é Sócrates, que representa a comédia às avessas: é pálido,<br />

descalço, não tem o que comer, vive trancado <strong>no</strong> Pensatório, isolado de todos,<br />

apartado da vida. Só fala sobre assuntos elevados, espirituais, ideais e abstratos,<br />

portanto, impossíveis de serem compreendidos pelo terre<strong>no</strong> Estrepsíades.<br />

É característico de Aristófanes <strong>no</strong>mear seus personagens de acordo com o<br />

caráter de cada um, <strong>no</strong>sso herói ganha seu <strong>no</strong>me a partir de strépho, verbo que<br />

signifi ca girar, revirar, revolver algo em seu espírito etc. Logo <strong>no</strong> início da peça o<br />

309 Platão. Fédon. In: Diálogos III. Trad. E. Bini. Bauru, Edipro, 2008, p. 197, 64d-e.<br />

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