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O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

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tigar o que é a justiça, permitindo-se fazer concessões entre aqueles que com ele<br />

empreende essa tarefa. Em resposta à explicação do mestre Trasímaco o ridiculariza,<br />

prorrompendo um riso sardônico e afi rmando ter visto nele a habitual ironia<br />

socrática 238 .<br />

Na narrativa, antes da investigação acirrada que os dois farão sobre o que<br />

é a justiça, Platão enquadra <strong>no</strong> texto a postura do público que estimula e “paga”<br />

para ver o embate entre os dois, pois Trasímaco manifestara que a tarefa do embate<br />

despenderá dinheiro 239 . Sobre esse fato, percebe-se a crítica de Platão aos sofi stas<br />

por cobrarem dinheiro <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> da retórica. Em contrapartida temos Sócrates,<br />

que diz não ter dinheiro, e essa menção é um contraponto à intenção dos sofi stas<br />

<strong>no</strong> desenvolver de suas atividades, tendo como interesse obter lucro pessoal.<br />

Platão desenha o personagem Trasímaco a fi m de mostrar o que há de mais<br />

<strong>no</strong>civo na atividade sofística, e isso começa a fazer com o uso da ironia, artifício já<br />

reconhecidamente utilizado pelo mestre e já anunciado pelo próprio personagem.<br />

A presença da ironia socrática vai se afi rmando <strong>no</strong> embate entre Sócrates e Trasímaco,<br />

sobretudo por estes começarem a trocar expressões e títulos intercalados<br />

aos argumentos, que são contrários, e pelas refutações que apresentam.<br />

Trasímaco, ao expor sua tese de que a justiça é o vantajoso ao mais forte, tese<br />

que desperta muita discordância, mostra-se convencido de que a sua formulação é<br />

brilhante, que sua retórica é de alto nível, ao ponto de perguntar a Sócrates: “o que<br />

espera para me elogiar? 240 ”. Surge então, ao passo que Sócrates refuta e Trasímaco<br />

defende sua posição, uma sequência de posturas ironizadas, que um manifesta ao<br />

outro. Pontuamos:<br />

Trasímaco claramente insulta Sócrates dizendo que ele é repugnante<br />

(Βδελυρὸς γὰρ εἶ), por tomar suas palavras por onde pode infl igir-lhe maior mal<br />

(338d). Mais à frente o chama de sicofanta (Συκοφάντης γὰρ εἶ), por acusá-lo de<br />

distorcer suas palavras (340d.1). Depois ironiza ao perguntar se tem ainda ama de<br />

leite, insinuando que é como criança, por na analogia que apresentou, não conseguir<br />

distinguir carneiros de pastor 241 . E ainda diz que deveria pegar os argumentos<br />

e enfi á-los na cabeça de Sócrates, insinuando que seja teimoso, visto não<br />

238 “Ó Herácles! Exclamou [Trasímaco], ei-la, a habitual ironia de Sócrates! Eu já sabia e<br />

predissera a esses jovens que não quererias responder, que simularias ig<strong>no</strong>rância, que tudo<br />

farias para não responder às perguntas que te fossem apresentadas!”. (República 337a)<br />

239 “ (...)além de trabalho de aprender, despenderás ainda dinheiro.<br />

-Certamente, quando o tiver – respondi.<br />

-Temo-lo nós – disse Glauco. – Se depender apenas de dinheiro, fala Trasímaco: todos nós<br />

pagaremos por Sócrates”. (337d)<br />

240 Ver República 338c.<br />

241 “É que – continuou – ela te deixa com o nariz a escorrer e não te assoa, embora ainda<br />

precises disso, já que não aprendeste a distinguir entre carneiros e pastor”. (343a)<br />

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