15.04.2013 Views

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

conseguir persuadi-lo 242 . Enquanto Trasímaco claramente insulta Sócrates, esse,<br />

por sua vez, vai se referindo ao seu interlocutor com os seguintes termos: ó melhor<br />

homem (ὦ βέλτιστε – 337e), mui sapientíssimo Trasímaco (ὦ σοφώτατε<br />

Θρασύμαχε – 339e), bem-aventurado homem (ὦ μακάριε – 341b, 346a), Divi<strong>no</strong><br />

Trasímaco (Ὦ δαιμόνιε Θρασύμαχε – 344d). De modo algum Sócrates considera<br />

Trasímaco merecedor desses títulos, mas o chama assim ironicamente, sobretudo<br />

porque o homem melhor, o sábio é aquele que adquire virtude (areté) e ele está<br />

longe da proposta socrático-platônica de homem virtuoso, por pregar exatamente<br />

o contrário sobre a virtude maior, a justiça.<br />

Bradando, Trasímaco ironiza a metodologia de Sócrates, insinuando ser ele<br />

um aproveitador, dizendo que sua sabedoria está em recusar-se a ensinar, aprender<br />

com os outros e ainda não agradece por isso (338b). Em contrapartida, Sócrates,<br />

impressionado com a falta de <strong>no</strong>ção e a incoerência do argumento de Trasímaco,<br />

exprime que achou, em determinado momento, que ele estava caçoando ao dizer<br />

que a injustiça é mais vantajosa que a justiça, e que quem a pratica é sábio e bom<br />

(349a).<br />

Platão descreve Trasímaco oscilando entre uma postura soberba, de quem<br />

pensa estar vencendo e poderia se retirar da discussão 243 , ora fi cando corado, sem<br />

saída, suando em bica, quando é encurralado com os argumentos do mestre (350d).<br />

Platão vai mostrando a mudança na postura de Trasímaco quando começa a<br />

fi car sem argumento. Ele parece concordar com Sócrates, primeiramente acenando<br />

com a cabeça, depois passando a responder (351bc). O mestre diz que fi ca encantado<br />

com as respostas que começa a dar, e Trasímaco ironicamente diz: é para<br />

te dar prazer. E o mestre responde, não me<strong>no</strong>s irônico: muito gentil de tua parte 244 .<br />

O diálogo encerra entre os dois quando Trasímaco acaba por concordar com<br />

o argumento de Sócrates, de que a justiça gera a vida feliz e ser feliz é mais vantajoso,<br />

logo não é viável praticar injustiça. Sócrates agradece a Trasímaco, que<br />

se apaziguou e não mais estava rude, ou seja, rendido, mas manifesta ainda estar<br />

insatisfeito, pois ainda não conseguiu achar a natureza da justiça, apenas tinham se<br />

242 “E como te persuadiria eu, se não fi caste persuadido com o que acabo de dizer? Que<br />

mais poderei fazer? Deverei pegar meus argumentos e enfi á-los em tua cabeça?” (345b)<br />

243 “Tendo assim falado, Trasímaco pretendia retirar-se, depois de haver, como um hábil<br />

banhista, inundando <strong>no</strong>ssas orelhas com o seu impetuoso e abundante discurso. Mas os<br />

assistentes não lho permitiram e forçaram-<strong>no</strong> a permanecer, para prestar contas de suas<br />

palavras. Eu mesmo instei-o a fazê-lo e disse-lhe: ‘Ó divi<strong>no</strong> Trasímaco, depois de teres<br />

lançado semelhante discurso, queres ir embora?” (República 334d)<br />

244 “Estou encantado, Trasímaco, por não te contentares em aprovar ou desaprovar com<br />

um ace<strong>no</strong> de cabeça, e por responderes tão bem.<br />

-É – disse ele – para te dar prazer.<br />

-Muito gentil de tua parte”. (351c)<br />

158

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!