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O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

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algo pode ser identifi cado com a consciência eidética 415 da realidade, que atribui<br />

aos mundos particulares uma ordenação sistemática universalista. A consequência<br />

desse fenôme<strong>no</strong> para a esfera moral é que, diferentemente dos outros seres, o huma<strong>no</strong>,<br />

limitado pela morte e pelo nascimento, incapaz mesmo de perceber o mundo<br />

tal como ele é, é, não obstante, senhor de sua ação. A liberdade torna-se, assim,<br />

a mais importante, se podemos dizer isso, das esferas humanas, pois é nela que o<br />

huma<strong>no</strong> pode tornar-se huma<strong>no</strong>, e sem ela, segundo Kant e Schiller, não somos<br />

plenamente o que somos. O autor de Teoria da Tragédia expõe-<strong>no</strong>s uma evidência<br />

mais clara sobre a natureza humana, <strong>no</strong> ensaio Acerca da arte trágica, onde<br />

É da relação de um objeto com a <strong>no</strong>ssa faculdade do sensível ou<br />

moral que procede o desprazer que sentimos nas paixões adversas, tal como<br />

dessa mesma fonte se origina o prazer <strong>no</strong>s afetos ditosos. Assim, segundo<br />

a relação em que se encontra a natureza moral de um homem para com a<br />

natureza sensível, ajusta-se o grau de liberdade que pode ser mantido nas<br />

paixões. 416<br />

Sendo o huma<strong>no</strong>, por sua própria constituição, um ser de dois mundos e<br />

um ser que universaliza a realidade múltipla, não é de todo estranho que tenha<br />

separado em esferas incomunicáveis os pontos de vista ético e político e estético,<br />

retirando do mundo da ação o belo, e criando para ele um mundo próprio, que é o<br />

mundo das manifestações artísticas, onde os critérios da ação já não são válidos.<br />

Aqui, Schiller se afasta de seu mentor ético, pois se o pensador do imperativo<br />

categórico postulava que a arte, sendo a manifestação do livre jogo das faculdades<br />

do entendimento e da imaginação, está desvinculada de qualquer fi nalidade ou<br />

função, Schiller acreditava ser possível na arte, moral na arte, isto é, a arte como<br />

balizadora de costumes e corretora de erro de más ações morais, algo perfeitamente<br />

plausível para os gregos clássicos, onde a maior evidência para isso está em seu<br />

idioma: kalós serve tanto para qualifi car uma pessoa bela como uma ação boa, do<br />

mesmo modo que kakós pode ser traduzido para as línguas modernas tanto como<br />

mau quanto como feio, a depender do contexto.<br />

O mais caro conceito ao sistema kantia<strong>no</strong>, se pensarmos que a mais cara<br />

<strong>no</strong>ção é a ética e política, apresenta-se como a liberdade, onde o huma<strong>no</strong> se efetiva<br />

como tal e se une à natureza depois da cisão originária representada pela consciência<br />

eidética, em última instância personifi cada pela linguagem. O padrão cultural<br />

415 SCHILLER, Friedrich. Acerca do uso do coro na tragédia. In: Teoria da Tragédia.<br />

Tradução de Flavio Meurer. E. P. U. Editora Pedagógica e Universitária. 2ª Edição. São<br />

Paulo - 1992, p. 79.<br />

416 Idem. Acerca da arte trágica. Idem, p. 87. Grifos meus.<br />

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