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O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

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O segundo ponto a ser considerado <strong>no</strong> âmbito da complexidade da peça é a<br />

chegada de Héracles, que já tinha sido anunciada por Apolo <strong>no</strong> prólogo. Essa chegada<br />

colocará em evidência as regras de hospitalidade que são seguidas fi elmente<br />

por Admeto, o que reforça ainda mais suas qualidades. Neste episódio, Admeto<br />

recebe Héracles em seu palácio e, apesar de estar preparando os funerais de Alceste<br />

cheio de tristeza, não revela a Héracles a verdade, dando ordens aos criados<br />

a conduzirem-<strong>no</strong> a um cômodo à parte <strong>no</strong> palácio para que o hóspede não se incomodasse<br />

com as lamentações dos funerais. A omissão de Admeto pode ser vista<br />

também como um recurso encontrado por Eurípides para atrasar o desfecho, além<br />

de ser uma forma de peripécia, como argumenta Silva (2000).<br />

Outro ponto interessante para considerarmos na peça de Eurípides é o ἀγών<br />

entre Admeto e seu pai Féres. Embora alguns estudiosos apontem esse episódio<br />

como um elemento cômico, para nós ele se confi gura como um elemento trágico,<br />

uma vez que abalado pela morte da esposa, e acometido por uma desmedida, acusa<br />

os pais de serem culpados pelo fato por não terem aceitado morrer já tendo pouco<br />

tempo de vida, e, além de tudo, os renuncia, dizendo coisas impróprias para a relação<br />

de pai e fi lho. Féres, por outro lado, replica o fi lho com palavras igualmente<br />

duras e rebaixa Admeto a um estado de humilhação, pois insinua que ele fugiu da<br />

morte covardemente e está vivo à custa da esposa, sendo suplantado por ela em<br />

coragem. Sobre essa questão, Padilla (2000) 525 afi rma que Admeto, na tentativa de<br />

embaraçar o pai por querer viver além do tempo apropriado, obtém do pai uma<br />

resposta pesada, em que o velho Féres aponta sua hipocrisia e sua fraqueza, o que<br />

confi gura humilhação. O ἀγών, <strong>no</strong> entanto, segue com palavras ofensivas e irônicas<br />

até que Féres se retira deixando claro que Admeto foi o verdadeiro responsável<br />

pela morte de Alceste.<br />

O último ponto a considerar sobre a peça é seu desfecho. Alceste é uma das<br />

várias peças de Eurípides que possuem um fi nal feliz e seria uma peça em que a<br />

reviravolta se dá passando do infortúnio para a felicidade, como menciona Aristóteles<br />

em sua Poética. O desfecho da peça começa quando Héracles descobre que<br />

a estrangeira que havia morrido e da qual Admeto lhe falou em sua chegada era<br />

Alceste. A intervenção de Héracles nesse ponto da peça não é inverossímil, nem<br />

destoa de seu conteúdo, pois Eurípides lança mão da fi gura desse herói por ser ele<br />

conhecido como aquele que foi ao Hades e voltou vivo de lá várias vezes. Assim,<br />

não haveria personagem mais apropriado para trazer Alceste de volta do que Héracles.<br />

Além disso, ele assume funções cênicas que são de extrema importância para<br />

que a peça chegue a esse desfecho, como a de deus ex machina, por exemplo, que<br />

525 Padilla, Mark, Gifts of Humiliation: Charis and Tragic Experience in Alcestis,<br />

American Journal of Philology, 121, 179-211, 2000.<br />

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