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O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

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poesia (Id. 2, 14, 15). Todavia, o fez com muita engenhosidade. Seus poemas mesclaram<br />

formas narradas com dramáticas (Id. 13, 22, 24) – esses idílios revelam a<br />

ligação de Teócrito com o conceito de polyeideía, escrever de várias formas ou em<br />

vários gêneros –, expressões simples do campo com a linguagem dos dialetos homéricos<br />

(Id. 28–31), traços esses que deram à sua poesia grande força metapoética.<br />

Tudo isso dá mostras de uma engenhosa combinação de formas poéticas, como<br />

hi<strong>no</strong> e epyllion, 194 com alguns elementos do drama em uma coleção de poemas<br />

de natureza bucólica. Isso parece demonstrar aquilo que os poetas helenísticos<br />

fi zeram muito bem: re<strong>no</strong>varam e criaram possibilidades entre os gêneros, percorrendo<br />

os espaços limítrofes dos mesmos, por meio de uma transgressão criativa<br />

das categorias pós-aristotélicas.<br />

Os poetas lati<strong>no</strong>s foram moldados pela estética alexandrina, imitando, aludindo,<br />

negando e criando relações genéricas. As obras de poetas como Ênio, Catulo,<br />

Lucílio, Lucrécio já evidenciam a grande infl uência da estética alexandrina;<br />

e os poetas do período augusta<strong>no</strong> elevaram essa estética ao seu primor. E Ovídio<br />

está entre esses.<br />

Muitas leituras de natureza genérica, especialmente sobre os poetas augusta<strong>no</strong>s,<br />

têm lançado <strong>no</strong>vas perspectivas quanto aos jogos genéricos como recurso de<br />

composição. Seria, quiçá, mais exato dizer que essas perspectivas, por desvendar<br />

aspectos da composição, parecem revelar os próprios processos composicionais<br />

dos poetas antigos. Por exemplo, <strong>no</strong>s estudos sobre a poesia de Virgílio, o artigo de<br />

Elena Theodorakopoulos tem demonstrado convincentemente que os três poemas<br />

virgilia<strong>no</strong>s Bucólicas, Geórgicas e Eneida, agregados a outras informações como,<br />

por exemplo, seu famoso epitáfi o citado por Donato – Mantua me genuit, Calabri<br />

rapuere, tenet nunc| Parthe<strong>no</strong>pe; cecini pascua rura duces – apontam para uma<br />

carreira poética programada, numa ascensão poética hexamétrica, que desde o primeiro<br />

verso da Bucólica 1 parece apontar para as duas obras futuras e a elevação<br />

delas. 195 Stephen Harrison, em Generic Enrichment in Vergil and Horace (2007),<br />

194 Uma epopeia abreviada e concisa (em geral entre cem e trezentos versos), caracterizada<br />

pela narrativa mítica cuidadosa, composta em versos hexamétricos, e que comprime<br />

o óbvio e o tradicional e se demora <strong>no</strong>s peque<strong>no</strong>s detalhes ou naquilo que foi deixado de<br />

lado. Fantuzzi e Hunter, Tradition and In<strong>no</strong>vation in Hellenistic Poetry. Cambridge: 2004,<br />

p. 191-6, discutem a questão porme<strong>no</strong>rizadamente. Eles identifi cam dois grupos de poemas<br />

épicos, um de considerável extensão, como As Argonáuticas, de Apolônio (c.295-230 a.C.)<br />

de Rodes, e Hecale, de Calímaco, e os de extensão breve. Ainda que algumas vezes o termo<br />

epyllion possa ser aplicado aos dois tipos de poema – alguns episódios dAs Argonáuticas<br />

podem ser considerados como epyllia –, é mais adequado aplicá-lo ao segundo, mormente<br />

considerando sua signifi cante familiaridade e emprego na literatura latina.<br />

195 Theodorakopoulos, E. ‘Closure: the book of Virgil’. In The Cambridge Companion to<br />

Virgil. Charles Martindale (Ed.). Cambridge University Press: 1997, p. 155-165.<br />

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