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O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

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duas cenas simétricas sejam apresentadas diante de nós. É este o caso de Penteu<br />

que, convencido que estava do ridículo do culto das bacas e de contrário que era<br />

a tal culto, terminar travestindo-se em baca e dirigindo-se às montanhas para se<br />

colocar entre elas. Temos então a cena fi nal em que Penteu surge para o público<br />

ainda vivo, e interessante ainda de análise da comicidade desse aspecto na peça em<br />

si, falo do espetáculo trágico.<br />

Nessa parte da peça, vemos com clareza a ilusão provocada pela tragédia<br />

para apresentar aos espectadores as personagens do mito em cena. Penteu pergunta<br />

a Dioniso se está semelhante a sua mãe, Agave. Dioniso lhe responde que é como<br />

se a tivesse frente a si. Nesse momento <strong>no</strong>s deparamos com a situação cênica a<br />

<strong>no</strong>ssa frente. O ator que se traveste de mulher, sendo um homem, e que sai de cena<br />

é o mesmo que se traveste de mulher, fi ngindo-se de mulher, para interpretar Agave<br />

na cena seguinte. Agave e Penteu seriam representados por um único ator e ambos<br />

são vistos e comparados em cena, evidenciando para nós a situação dramática.<br />

Neste contexto, torna-se interessante e mesmo irônica a observação sobre Penteu<br />

travestido em mulher assinalando mais um aspecto dessa comicidade na peça.<br />

Nas cenas fi nais a cegueira é levada às últimas consequências assumindo um<br />

aspecto mais trágico.<br />

Agave chega à cena com a cabeça do próprio fi lho <strong>no</strong>s braços, assim como<br />

profetizara Dioniso, sem a percepção do que acontece com ela. Nesse momento<br />

<strong>no</strong>s é posta em cena a fi gura ridícula de uma mulher que pensa ter cometido um<br />

grande feito, mas que, na verdade, acaba de assassinar o próprio fi lho. Temos então<br />

<strong>no</strong>vamente a situação trágica posta a <strong>no</strong>ssa frente com toda a força. Devemos<br />

lembrar a questão da emoção. Se <strong>no</strong>s apiedarmos de Agave, não iremos rir de sua<br />

situação. Se, por outro lado, <strong>no</strong>s distanciarmos dessa situação, como já temos feito<br />

em toda a peça devido à fi gura de Dioniso, iremos observar essa cena percebendo<br />

o ridículo da cena que <strong>no</strong>s é apresentada.<br />

Esta cena fi nal <strong>no</strong>s parece mais difícil de ser considerada como cômica, entretanto,<br />

devemos perceber que há essa possibilidade. Agave <strong>no</strong>s é mostrada como<br />

alguém que se vangloria de seus feitos. Ela toma para si o assassinato com orgulho<br />

e esquece-se do deus que a ajudara dando-lhe forças para tal façanha ser possível.<br />

Seu discurso é cheio de hybris (desmedida), mas as consequências de tal ação já<br />

chegaram, ela apenas ainda não percebe. O discurso louco da mulher que pensava<br />

ter superado a tudo e a todos, abre a possibilidade para a interpretação cômica, o<br />

que <strong>no</strong>s leva às possibilidades apresentadas por nós <strong>no</strong> início desse trabalho.<br />

Seria a cultura, o tempo e mesmo as tradições desse povo, tão distintos dos<br />

<strong>no</strong>ssos, que <strong>no</strong>s fariam rir de cenas apresentadas em contexto solene e sério? Não<br />

estamos dizendo aqui que festas como as Grandes Dionisíacas seriam lugares de<br />

seriedade, eram festas, apresentações das mais variadas ocorriam e, difi cilmente,<br />

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