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O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

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desgraça em pilhéria. Assim, pelo riso, o sofrimento real é suavizado, ou ainda,<br />

purgado pela catarse poética. Ao mesmo tempo, o poeta luta pela afi rmação de<br />

sua identidade que, <strong>no</strong> fundo, é também a da comunidade da qual é representante.<br />

Considerações Finais: Carnavalização e Molecagem<br />

Ainda que de modo pa<strong>no</strong>râmico, procuramos mostrar aqui como o cordel<br />

de gracejo retoma muitos elementos da cultura popular medieval e renascentista.<br />

Nessa perspectiva, é possível uma aproximação dos cordéis de humor, por exemplo,<br />

com obras como Gangantua e Pantagruel, do escritor renascentista François<br />

Rabelais.<br />

Sem o desmerecimento desse cotejo, importa ressaltar que a força do riso<br />

<strong>no</strong>s cordéis de gracejo nem de longe alcança a profundidade libertária e utópica<br />

das manifestações populares que mereceram de Mikhail Bakhtin uma análise detida<br />

das potencialidades de subversão pelo riso na cultura popular na Idade Média<br />

e <strong>no</strong> Renascimento. O próprio Bakhtin franqueia uma explicação para isso,<br />

demonstrando como, a partir do Renascimento, o riso foi perdendo o vigor como<br />

expressão coletiva.<br />

Retomando uma ideia desenvolvida por Lukács em A teoria do romance 108,<br />

poder-se-ia afi rmar que não mais vivemos o mundo fechado, orgânico, do passado.<br />

Na verdade, estamos em uma era de alienação, de errância e de individualismo.<br />

Nesse contexto, o carnaval perdeu a onipresença e a condição de instrumento de<br />

contestação do período medieval e renascentista, não sendo hoje mais do que um<br />

evento festivo dominado pelo mercado.<br />

E a carnavalização? Poder-se-ia ainda aplicar esse conceito na análise dos<br />

cordéis de humor? Em <strong>no</strong>sso ponto de vista, outro conceito ajusta-se melhor à<br />

análise dos folhetos: o de molecagem. Nesse ponto, concordamos com Francisco<br />

Secundo da Silva Neto, que identifi ca o “Ceará-moleque” como instrumento adequado<br />

para se pensar “a identidade em tempos liquefeitos” 109 .<br />

A expressão foi registrada por Adolfo Caminha <strong>no</strong> romance A Normalista,<br />

publicado em 1893. Na obra, uma personagem mostra a outra que não havia como<br />

escapar do Ceará-moleque, onde a fofoca tor<strong>no</strong>u-se palavra de ordem 110 . Como<br />

108 LUKÁCS, George. A teoria do romance: um ensaio histórico-fi losófi co sobre<br />

as formas da grande épica. Trad. José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo:<br />

Duas Cidades/34, 2000. 34 (Espírito Crítico).<br />

109 SILVA NETO, Francisco Secundo da. “A identidade cultural em tempos liquefeitos:<br />

o ‘Ceará-moleque e a contemporaneidade?”. Disponível em: http://<br />

www.logos.uerj.br/PDFS/30/06_logos30_FranciscoMarcio.pdf. Acessado em<br />

15/02/2012.<br />

110 Cf. CAMINHA, Adolfo. A <strong>no</strong>rmalista. 11. ed. São Paulo: Ática, 1997, p. 33.<br />

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