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O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

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que, a jovialidade contava muito para que o rito se realizasse. O homem, mesmo<br />

que “(...) esteja grisalho (...)” 429 , se casa com a mulher que lhe apetecer, obedecendo<br />

a certas regras sociais de conduta.<br />

Lisístrata convoca todas as mulheres da Grécia para a greve sexual. Confi ante<br />

também obtém apoio das senhoras mais velhas. Curioso é afi rmar que o templo<br />

que irão invadir para se protegerem será o de Atena. Os sacerdotes furiosos não se<br />

conformam e afi rmam que a presença delas é uma ofensa. Por que pensam isso?<br />

A cidadania feminina não é, de certa forma, aceita e isso também se refl ete na<br />

religião. Apesar de que, em rituais de outros deuses, as mulheres eram aceitas e<br />

tinham até a patente de sarcedotisas.<br />

Os homens não encaram com seriedade o ato de todas elas e continuam a<br />

guerra. O tempo passa e eles retornando para casa percebem, realmente, que suas<br />

esposas não cederão. Vemos, nessa parte, como as gregas, na visão de Aristófanes,<br />

assegurarão seus objetivos, os quais seriam, a fi nalização da guerra; o retor<strong>no</strong> de<br />

seus maridos às suas famílias; participação da mulher enquanto sujeito de mediação<br />

de uma guerra de proporções tão gigantescas.<br />

Todavia, uma característica dessa peça é importante observar: Elas retornaram<br />

aos seus afazeres domésticos. O seu espaço particular que condiz a sua casa<br />

voltará a ser seu lugar de suas ações como matter famíllis enquanto que o público,<br />

pertencente ao seu marido, continuará sendo dele. Por quê? Ocorre que Aristófanes,<br />

como cidadão conservador, possivelmente, não vê na mulher um sujeito que<br />

perpetuará suas ações <strong>no</strong> mundo público.<br />

É curioso o fato de que, como escritor de peças de comédia, ele use a mulher<br />

como personagem principal. Por que um homem não poderia ter decidido por<br />

parar a guerra e compactuar um acordo de paz? Naquela época e em vários outras<br />

posteriores, a “natureza guerreira” masculina foi, em várias ocasiões, louvável.<br />

Em muitas histórias, percebemos que quando um ser masculi<strong>no</strong> vai de encontro<br />

a essa postura, o fi m dele é trágico, e a impressão que se tem é a de que ele não<br />

foi inteligente e esperto, e que a guerra é a solução inerente à forma viril de ação.<br />

A conclusão que se busca nessa leitura é a de que Aristófanes sendo inteligente<br />

e sarcástico conseguiu expressar sua opinião da guerra e expor parte<br />

do modo de vida daquelas pessoas da antiga Grécia na voz de uma personagem<br />

feminina - Lisístrata. Observe que várias partes dessa história conseguem se encaixar<br />

com a <strong>no</strong>ssa forma atual de convivência. Anacronismo? Não, pois a cultura<br />

ocidental é descendente da cultura grega, as leituras é que devem se adequar ao seu<br />

tempo-presente. Nosso autor colocou sua opinião em seu tempo vivido, não deve-<br />

429 Aristófanes, Lisístrata. trad. de Ana Maria César Pompeu. São Paulo, Hedra, 2010,<br />

pág.75<br />

265

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