15.04.2013 Views

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Georges Mi<strong>no</strong>is 89 ; e Hobbes e a teoria clássica do riso, de Quentin Skinner 90 .<br />

Tão importante quanto essas obras, o livro A cultura popular na Idade Média<br />

e <strong>no</strong> Renascimento: o contexto de François Rabelais, de Mikhail Bakhtin 91 , é<br />

também um texto obrigatório para quem se dedica a entender a natureza do riso.<br />

Escrita <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de 1940 e defendida como tese em 1951, a obra evidencia, a partir<br />

de uma análise da obra de François Rabelais, a força do riso como elemento de<br />

contestação ao status quo. Para tanto, Bakhtin discorre sobre várias manifestações<br />

populares do período medieval e renascentista, incluindo as festas (com destaque<br />

para o carnaval), os banquetes e o vocabulário obsce<strong>no</strong> e grosseiro das tabernas.<br />

Uma das teses centrais de Bakhtin na referida obra é a de que os aspectos sérios<br />

e cômicos eram igualmente sagrados e ofi ciais nas sociedades primitivas, mas<br />

foram cada vez mais se separando a partir do surgimento da sociedade de classes e<br />

do Estado. Por fi m, com o feudalismo, o riso foi expurgado da cultura ofi cial, que<br />

era dominada pela Igreja e marcada pela seriedade. O povo, então, passou a ver <strong>no</strong><br />

riso um meio de se contrapor à cultura das elites. Nesse processo, as várias festas<br />

que ocorriam <strong>no</strong> período medieval, e que representavam uma ruptura <strong>no</strong> duro cotidia<strong>no</strong><br />

do povo, foram sancionando o riso. Havia, por exemplo, o “riso pascal” e<br />

o “riso de Natal”, os quais, junto com as outras formas de riso, concretizavam “a<br />

esperança popular num futuro melhor, num regime social e econômico mais justo,<br />

numa <strong>no</strong>va verdade” 92 . Ou seja, o riso presente nas manifestações populares passou<br />

a representar uma forma de subversão à seriedade da cultura ofi cial:<br />

o sério é ofi cial, autoritário, associa-se à violência, às interdições, às restrições.<br />

Há sempre nessa seriedade um elemento de medo e de intimidação.<br />

Ele dominava claramente na Idade Média. Pelo contrário, o riso supõe<br />

que o medo foi dominado. O riso não impõe nenhuma interdição, nenhuma<br />

restrição. Jamais o poder, a violência, a autoridade empregam a linguagem<br />

do riso 93 .<br />

Como se observa, portanto, a cultura popular encerra uma visão de mundo<br />

em tudo oposta à cosmovisão da elite. Nessa perspectiva, as festas populares<br />

89 MINOIS, Georges. História do <strong>Riso</strong> e do Escárnio. Trad. Maria Elena Assumpção. São<br />

Paulo: UNESP, 2003.<br />

90 SKINNER, Quentin. Hobbes e a Teoria Clássica do <strong>Riso</strong>. Trad. Alessandro Zir. São<br />

Leopoldo, RS: USININOS, 2004.<br />

91 BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e <strong>no</strong> Renascimento: o contexto<br />

de François Rabelais. Trad. Yara Frateschi. São Paulo: Hucitec/ Brasília, DF: Editora da<br />

Universidade de Brasília, 1999.<br />

92 Mikhail BAKHTIN, Op. cit., p. 70.<br />

93 Mikhail BAKHTIN, Op. cit., p. 78. Os grifos são do autor;<br />

69

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!