15.04.2013 Views

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

1. A comédia na Poética<br />

Mímesis e comédia em Aristóteles<br />

241<br />

Renata de Oliveira Lara 389<br />

A exposição em propósito tem como fi nalidade refl etir sobre a relação entre<br />

a mímesis e a comédia na Poética, todavia investigando contrapontos evidenciados<br />

<strong>no</strong> pensamento de Aristóteles em aspectos éticos e políticos, considerando as<br />

difi culdades encontradas <strong>no</strong> estudo deste tema, a saber, o caráter esotérico destes<br />

escritos realizados para uso inter<strong>no</strong> ao ministrar seus cursos <strong>no</strong> Liceu, e que estes<br />

textos chegaram até nós de forma incompleta. Toda a parte relativa ao suposto<br />

fragmento sobre a comédia nunca foi encontrada, e contrariando o método expositivo<br />

lógico e explícito do autor, em momento algum na Poética afi rma o que<br />

entende exatamente por mímesis e kátharsis, os conceitos elementares desta obra.<br />

Aristóteles considera o cômico “algo de errado e feio, que não causa dor<br />

nem da<strong>no</strong>” (Poética, V, 1449 a 32). O “errado” como caráter do cômico signifi ca<br />

o caráter imprevisto, porque irracional, da solução apresentada pelo cômico para<br />

um confl ito ou uma situação de tensão. Conforme o autor:<br />

A comédia é, como dissemos, imitação de homens inferiores, não, todavia,<br />

quanto a toda espécie de vícios, mas só quanto aquela parte do torpe<br />

que é ridículo é apenas certo defeito, torpeza anódina e i<strong>no</strong>cente, que bem o<br />

demonstra, por exemplo, a máscara cômica, que sendo feia e disforme, não<br />

tem [expressão de] dor. 390<br />

Compreende a comédia como gênero literário inferior à tragédia, pois a primeira<br />

representa os homens comuns, enquanto a tragédia quer representar aos<br />

homens sublimes moralmente. Aristóteles, certamente considerava a comédia inferior,<br />

pois liberava o riso arcaico, agressivo, barulhento, ilimitado: a gargalhada.<br />

Portanto, impróprio ao governante, exemplo de homem dig<strong>no</strong> e sério, ao qual é<br />

indispensável o controle de si, assim o riso adequado é o riso reduzido, parcimonioso,<br />

comedido. Entretanto, Aristóteles em Sobre os animais afi rma o homem<br />

como único animal que ri, ou seja, o riso é próprio do huma<strong>no</strong>.<br />

As inquietações pertinentes à presente refl exão, seriam: pressupondo o<br />

389 Mestre em Filosofi a pela UECE, professora na Faculdade de Educação - UFC. E-mail:<br />

philialara@gmail.com<br />

390 ARISTÓTELES. Poética. Tradução Eudoro de Souza. Coleção Os pensadores. Volume<br />

II, São Paulo: Abril Cultural, 1979. Livro V, 1449a 32-36.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!