15.04.2013 Views

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Diferentemente dos outros exemplos discutidos, Cláudio é motivo de riso<br />

não por um vício ético, mas de natureza. Embora Suetônio elenque razões que<br />

poderiam ser causa de sua estupidez – perdera o pai quando bebê, sofria de uma<br />

doença terrível desde a infância, e depois nas mãos de um pedagogo brutal (Suet.<br />

Cl. 2) – o riso destacado pelo biógrafo acentua também o pragmatismo frio do tio-<br />

-avô e a crueldade com que sua mãe, sua avó e sua irmã o tratavam (Suet. Cl. 3) 134 .<br />

Em um passo repleto de sugestões eruditas e irônicas 135 , Tácito insinua quanta<br />

infl uência tinha Sêneca sobre Nero, e aproveita o estereótipo de Cláudio para<br />

ironizar o jovem regente seu sucessor:<br />

“<strong>no</strong> dia dos funerais, Nero iniciou o elogio daquele príncipe; enquanto<br />

tratou da antiguidade de sua família, dos consulados e dos triunfos de<br />

seus antepassados, manteve-se ele próprio concentrado, como os demais. A<br />

recordação das artes liberais e o fato de nada haver ocorrido de lamentável<br />

em seu reinado contra a república, por ameaças externas, foi ouvido com<br />

atenção; tão logo fez menção a previdência e sabedoria, ninguém controlou<br />

o riso (risui), ainda que fosse Sêneca o autor de tão cuidado discurso, dig<strong>no</strong><br />

de seu engenho agradável e apropriado aos ouvidos da época. Os mais idosos,<br />

cujo ócio permitia comparar o presente e o passado, constatavam que<br />

Nero era o primeiro príncipe a necessitar da eloquência alheia” (Tac. An.<br />

13.3).<br />

Se não são exaustivos, os exemplos arrolados são signifi cativos quando entendidos<br />

sob a perspectiva de uma história mestra da vida, ou de biografi as focadas<br />

em pequenas atitudes (Plut. Alex. 1). Políbio, que também escrevera uma biografi a<br />

de seu mestre Filopêmen (Plb. 10.21.5-8), e Tito Lívio, profundo conhecedor de<br />

Políbio, inserem em passos-chave de suas obras a recomendação para que o leitor<br />

atente para os exemplos a imitar e a evitar 136 . Com exceção dos exemplos de<br />

Cambridge, University Press, 2001, p. 76.<br />

134 Mater Antonia portentum eum hominis dictitabat, nec absolutum a natura, sed tantum<br />

incohatum; ac si quem socordiae argueret, stultiorem aiebat fi lio suo Claudio. Avia Augusta<br />

pro despectissimo semper habuit, <strong>no</strong>n affari nisi rarissime, <strong>no</strong>n monere nisi acerbo et brevi<br />

scripto aut per internuntios solita. Soror Livilla cum audisset quandoque imperaturum, tam<br />

iniquam et tam indignam sortem p. R. palam et clare detestata est.<br />

135Cf. E. O’Gorman, Irony and misreading in the Annals of Tacitus, Cambridge, University<br />

Press, 2000, p. 148-9.<br />

136 Plb. 12.25b.3: ἐκ γὰρ τῶν ὁμοίων ἐπὶ τοὺς οἰκείους μεταφερομένων καιροὺς ἀφορμαὶ<br />

γίνονται καὶ προλήψεις εἰς τὸ προϊδέσθαι τὸ μέλλον, καὶ ποτὲ μὲν εὐλαβηθῆναι, ποτὲ δὲ<br />

μιμούμενον τὰ προγεγονότα θαρραλεώτερον ἐγχειρεῖν τοῖς ἐπιφερομένοις; 10.21.8: ὁ [sc.<br />

92

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!