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O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

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À realidade opressora do “ aqui e agora” denunciada <strong>no</strong>s folhetos, o<br />

poeta opõe um tipo de combate dado <strong>no</strong> modo imaginário e cujas armas são<br />

a utopia, o mito, a lenda, o milagre... Pela exploração do imaginário e da<br />

memória coletivos, ele procura, através da escrita, a livre circulação do ser<br />

dentro de si mesmo, fora de si e além da morte. Do mecanismo compensatório<br />

à afi rmação da força reivindicativa, entre a miséria efetiva, vivi da,<br />

e o poder de intervenção irreal, ergue-se o poeta e sua palavra. As reimpressões<br />

sucessivas de alguns clássicos da literatura de cordel testemunham<br />

o sucesso dessa fonte de inspiração: Viagem a São Saruê, de Ma<strong>no</strong>el Camilo<br />

dos Santos, A Chegada de Lampião <strong>no</strong> Infer<strong>no</strong> de José Pacheco, ou o<br />

Romance do Pavão Misterioso, de José Camelo de Melo Resende 106 .<br />

Associado a esse desejo de transformar a batalha entre vida e morte, entre<br />

redenção e pecado, entre espírito e corpo, numa representação do embate entre<br />

desvalidos e elite, observa-se também <strong>no</strong> cordel de gracejo um movimento que<br />

leva o poeta a rir de si mesmo. Um exemplo disso é o cordel, “Viagra de matuto”,<br />

de Hercula<strong>no</strong> Duarte, que zomba de um drama que atormenta os homens: a perda<br />

da ereção:<br />

A danada adurmece,<br />

Asdispois da meia idade,<br />

Fica lerda e priguiçosa.<br />

O precoço se amulece,<br />

Diminui pela metade,<br />

E já num é tão viçosa.<br />

As pena tudo imbranquece,<br />

O papo fi ca vazio<br />

Caído <strong>no</strong>s vão das perna.<br />

O canto disaparece,<br />

E se incuruja <strong>no</strong> frio,<br />

Feito majó na caserna 107 .<br />

Esse rir de si mesmo, como se pode ver, é um antídoto contra a depressão<br />

diante de circunstâncias de difícil superação. O drama das secas, a velhice, a pobreza,<br />

a feiura, o defeito físico, a traição amorosa... são muitos os problemas que<br />

o poeta enfrenta com humor. E assim, rindo de si mesmo, o poeta converte sua<br />

106 Martine KUNZ, Op. cit., p. 62.<br />

107 DUARTE, Hercula<strong>no</strong>. “Viagra de matuto”. Disponível em: http://www.overmundo.<br />

com.br/banco/viagra-matuto. Acessado em 15/02/2012.<br />

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