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O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

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dos vencedores da Maratona. Hoje enfraqueciam as crianças envolvendo-as em<br />

mantas e uma pessoa sufoca-se de raiva ao ver a maneira mole e desleixada que<br />

os jovens seguram os escudos sobre o ventre nas danças das Panatenéias. O Justo<br />

promete a todos os jovens que decidam entregar-se a sua educação ensiná-los a<br />

odiar a ágora e os banhos, a envergonharem-se de toda conduta vergonhosa, a<br />

indignarem-se quando alguém os insulta, a erguerem-se na presença dos velhos, a<br />

não serem estúpidos com seus pais, a não andarem como bailarinas e honrarem os<br />

deuses. Em vez de discursarem na ágora ou irem até o tribunal discutir besteiras,<br />

os jovens deveriam exercitar-se <strong>no</strong> ginásio. Assim, o coro exalta os homens que<br />

viveram <strong>no</strong>s tempos antigos em que esta educação reinava.<br />

O Discurso Injusto então se ergue contra o Justo desejando confundi-lo com<br />

sua retórica. Envaidece-se por ser o primeiro a descobrir a arte de contradizer as<br />

leis diante dos tribunais. Para ele a melhor aptidão é aquela que habilita a escolher<br />

os raciocínios fracos e, ainda assim, sair vencedor. Antes a defesa – <strong>no</strong> tribunal<br />

– tentava demonstrar que o caso estava de acordo com a lei, agora ataca a lei e<br />

tenta provar que esta é defi ciente. Através da <strong>no</strong>va forma da pergunta e da resposta<br />

contradiz seu adversário e, utilizando-se da retórica, serve-se da mitologia como<br />

instrumento de prova. A fi m de combater as censuras feitas pelo Justo, os sofi stas<br />

colecionam exemplos míticos que poderiam servir para seus fi ns. É dessa forma<br />

que o Injusto utiliza-se do mito de Héracles para rebater a afi rmação de que os<br />

banhos quentes prejudicam o corpo. Para elogiar o costume de discursar na ágora<br />

invoca a eloquência de Nestor e outros heróis homéricos.<br />

Em um dado momento, Injusto vira-se para Fidípides e diz que se o jovem<br />

optar pela velha educação, pela sophrosyne, renunciará a todos os gozos da vida.<br />

A discussão termina <strong>no</strong> ponto em que Injusto provoca as gargalhas do público<br />

com seu elogio à sua moral e dessa forma explica que é impossível que a prática<br />

seguida pela maioria do povo seja um vício.<br />

A imagem ideal da antiga educação serve como crítica à <strong>no</strong>va educação,<br />

mostra o que a <strong>no</strong>va educação não é. Esta é tudo o que existe de contrário ao justo<br />

e ao são. A falta de escrúpulos morais do <strong>no</strong>vo poder intelectual não se submete<br />

a qualquer tipo de <strong>no</strong>rma. Através da refutação dos ideais da antiga educação fi ca<br />

claro o tipo de homem que resultava da <strong>no</strong>va educação.<br />

Na tentativa de responder a questão sobre qual era a posição adotada pelo<br />

poeta em relação à luta entre a velha e a <strong>no</strong>va educação, apoio-me na leitura de<br />

Werner Jaeger, e não julgo Aristófanes como partidário unilateral de uma das duas<br />

tendências educacionais. Pois ele próprio foi favorecido pela educação “moderna”<br />

e a comédia não seria concebível <strong>no</strong>s tempos da “boa” educação antiga que tanto<br />

admirava. Aristófanes não é um reacionário dogmático, e a evocação da antiga<br />

Paidéia não signifi ca uma vontade de regressar ao passado, somente o enchia de<br />

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