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O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

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substituído por Erixímaco na ordem dos oradores.<br />

Depois o poeta quase não consegue falar sendo interrompido por Erixímaco,<br />

que muito embora tenha feito seu discurso na lógica de sua técnica (a medicina),<br />

ele pretende exigir de Aristófanes que não fale <strong>no</strong>s termos da comédia. Finalmente<br />

o poeta é solenemente ig<strong>no</strong>rado quando ensaia responder aos comentários que Sócrates<br />

fará a respeito do seu discurso. Mas é Erixímaco que o faz de forma explícita:<br />

“Meu bom Aristófanes, vê o que fazes. Estás a fazer graça, quando vais falar,<br />

e me forças a vigiar seu discurso, se porventura vais dizer algo risivel, quanto te é<br />

permitido falar em paz” 256 .<br />

Aristófanes também lançará mão de uma visão mítica para explicar o poder<br />

de Eros sobre os homens, porém em um cotexto totalmente <strong>no</strong>vo, especialmente<br />

porque não se trata do mito de origem de um deus e suas virtudes, mas de um mito<br />

cujo alvo é explicar o nascimento do próprio homem como ser capaz de amar,<br />

apesar do alto preço que, por imposição dos deuses, isso lhe possa custar. Reale 257<br />

em seus estudos à luz das doutrinas não escritas faz alusões aos nexos entre Eros<br />

e os princípios primeiros do U<strong>no</strong> e da Díade expressas de forma cômica <strong>no</strong> discurso<br />

de Aristófanes. Para Reale as evocações dos pontos chaves das “ doutrinas<br />

não escritas” quando apresentadas <strong>no</strong>s diálogos, são sempre feitas <strong>no</strong> modelo de<br />

Jogo que para Platão é uma característica do escrito. Platão põe na boca do maior<br />

comediógrafo grego, construindo um belíssimo jogo cômico, as alusões mais fortes<br />

aos primeiros princípios, com imagens que evocam continuamente o dois e a<br />

divisão diádica, bem com u<strong>no</strong>, a unidade e o inteiro, ao longo de todo o discurso,<br />

particulamente na parte conclusiva.<br />

Vejamos agora esse fragmento do discurso de Aristófanes:<br />

Mas é preciso primeiro aprenderdes a natureza humana e as suas vicissitudes,<br />

com efeito, <strong>no</strong>ssa natureza outrora não era a mesma que de agora,<br />

mas diferente. Em primeiro lugar eram três os gêneros da humanidade<br />

não dois como agora, o masculi<strong>no</strong> e o femini<strong>no</strong>, mas também havia a mais<br />

um terceiro, comum a estes dois, do qual resta agora um <strong>no</strong>me, desaparecida<br />

a coisa: andrógi<strong>no</strong>, era então um genero distinto, tanto na forma como<br />

<strong>no</strong> <strong>no</strong>me comum aos dois, ao masculi<strong>no</strong> e ao femini<strong>no</strong>, enquanto agora<br />

256 Platão. Banquete. Diálogos; seleção de textos de José Américo Motta Pessanha; tradução<br />

e <strong>no</strong>tas de José Cavalcante de Souza, Jorge Paleikat e João Cruz Costa. – 2. Ed. – São<br />

Paulo: Abril Cultural, (Os pensadores). p. 22, 189b.<br />

257 Reale G. Para uma <strong>no</strong>va interpretação de Platão. Releitura da metafísica dos grandes<br />

diálogos à luz das doutrinas não-escritas. Trad. De Marcelo Perine. São Paulo, Loyola.<br />

1997.<br />

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