15.04.2013 Views

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

que ele introduz o elemento satírico, ou mesmo cômico na peça e outros veem sua<br />

presença como algo destoante de seu conteúdo central e que isso pode caracterizar<br />

a peça como um drama satírico, pro-satírico, ou tragicômico. É que a fi gura<br />

de Héracles, de fato, assume um caráter burlesco, principalmente <strong>no</strong> momento<br />

em que ele aparece em uma cena exagerada de comilança e bebedeira em ple<strong>no</strong><br />

funeral de Alceste, embora ele não o soubesse. Mas, se a fi gura de Héracles é<br />

sufi ciente para classifi car a peça como um drama satírico, pro-satírico ou mesmo<br />

tragicômico, então teríamos que <strong>no</strong>s esquecer dos elementos trágicos apresentados<br />

anteriormente a partir da fi gura de Apolo. Além disso, segundo Kitto (1970)<br />

classifi car Alceste como drama satírico pode explicar, em termos, o burlesco, mas<br />

não explica a tragédia.<br />

O primeiro questionamento que <strong>no</strong>s vem à mente é: por que Eurípides experimentou<br />

tal combinação? Ora, podemos pensar que foi uma solução encontrada<br />

pelo tragediógrafo para garantir a verossimilhança da peça, uma vez que o único<br />

que poderia trazer Alceste de volta à vida pela experiência de ir ao Hades era o<br />

fi lho de Alcmena. Outra resposta seria a que Silva (2000) ressalta: de que Héracles<br />

aparece como a realização de uma peripécia <strong>no</strong> sentido empregado por Aristóteles,<br />

pois sua chegada causa uma reviravolta <strong>no</strong> curso da ação. Porém, a resposta que<br />

parece caber melhor ao caso de Héracles em Alceste é ver sua participação como<br />

um recurso cênico empregado por Eurípides para resolver o confl ito estabelecido<br />

até aquele momento: Alceste morreu, mas voltará à vida. Como?<br />

Sabemos que Eurípides i<strong>no</strong>vou o teatro grego lançando mão de recursos até<br />

então pouco explorados pelos outros tragediógrafos. Um desses recursos foi o de<br />

colocar deuses <strong>no</strong> desfecho de suas peças na forma de ἀπὸ μηχανῆς, ou seja, de<br />

deus ex machina, como afi rma Brandão (2009) 528 .<br />

Berthold (2010) 529 defi ne o deus ex machina como sendo:<br />

um elemento cênico de surpresa, um dispositivo mecânico que vinha<br />

em auxílio do poeta quando este precisava resolver um confl ito huma<strong>no</strong><br />

aparentemente insolúvel por intermédio do pronunciamento divi<strong>no</strong> ‘vindo<br />

de cima’. Consistia em um guindaste que fazia descer uma cesta do teto<br />

do teatro. Nesta cesta sentava-se o deus ou o herói cuja ordem fazia com<br />

que a ação dramática voltasse a correr pelas trilhas mitológicas obrigatórias<br />

quando fi cava emperrada. (p. 117).<br />

Embora Héracles aparentemente não fi gure em cena, carregado por um guin-<br />

528 Brandão, Junito de Souza, Teatro Grego: Tragédia e Comédia, Petrópolis, Vozes, 2009.<br />

529 Berthold, Margot, História Mundial do Teatro, Tradução de Maria Paula V. Zurawski,<br />

J. Guinsburg, Sérgio Coelho e Clóvis Garcia, São Paulo, Perpectiva, 2010.<br />

344

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!