15.04.2013 Views

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

lembrar a crítica platônica ao comediógrafo Aristófanes, ao descrever na sua obra<br />

As nuvens, a fi gura de um Sócrates que ‘vagabundeia a dizer que anda <strong>no</strong> ar, e a<br />

cometer muitas tolices’, considerando Aristófanes como um dos possíveis responsáveis<br />

pela condenação de Sócrates, em sua Apologia.<br />

Não podemos esquecer que Sócrates ocupa um lugar de honra na casa de<br />

Agatão <strong>no</strong> Banquete. Não foi por acaso que Platão incluiu o discurso de Alcibíades.<br />

Temos, na verdade, dois desfechos: o primeiro de Diotima, ao explicar a<br />

essência do amor, e o segundo de Alcibíades, revelando Sócrates como o tipo de<br />

amor ideal. Aristófanes parece não reconhecer a natureza dos elogios e, mesmo<br />

tendo apresentado um belo discurso, fi ca preso à questão divina e não compreende<br />

a verdadeira arte racional presente <strong>no</strong> discurso.<br />

Na realidade, é como se Aristófanes não tivesse enxergado ‘o verdadeiro<br />

cômico que se exala da grotesca desfaçatez do poderoso Alcibíades em suas primeiras<br />

relações com Sócrates, porque também ele nem sequer logriga o aspecto<br />

trágico deste fau<strong>no</strong>, cuja feiúra exterior esconde uma tal beleza espiritual que os<br />

mais bem dotados, quando conseguem surpreendê-la, não suportam seu impacto<br />

254 ’. Ou seja, o reconhecimento do amor somente como aspiração divina impede<br />

o poeta de enxergar a referência a Sócrates pautada nas experiências cotidianas de<br />

busca pelo amor. Trágico ou cômico, o Banquete, pelo me<strong>no</strong>s na tentativa cômica<br />

de dialogar com Aristófanes, representa justamente essa luz que somente o amor<br />

pode <strong>no</strong>s proporcionar <strong>no</strong> desejo de alcançar, em sua natureza, o despertar daquilo<br />

que é bom e belo para o homem.<br />

É precisamente nestes termos que o amor se coloca, não como puramente<br />

ideal, mas como intrinsecamente relacionado à própria constituição da natureza<br />

humana, marcado por essa busca incessante do homem para a realização de algo,<br />

o que demarca propriamente a efetivação da sua humanidade. Em outras palavras,<br />

representa também este impulso huma<strong>no</strong> pela vida, este movimento dialético de<br />

ascese espiritual, o dinamismo da vida que se realiza na aspiração ao que é bom e<br />

belo para o homem.<br />

254 Platão. O Banquete, Tradução, introdução e <strong>no</strong>tas de J. Cavalcante Sousa, 9ª Ed., Rio<br />

de Janeiro, Bertrand Brasil 1999, p. 75.<br />

166

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!