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O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

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a poesia é mais fi losófi ca e virtuosa que a história, que confere importância, entre<br />

outros motivos, porque parece responder a crítica platônica dirigida aos poetas,<br />

especialmente <strong>no</strong>s livros III e X da República, e vários comentadores se dedicam<br />

a este impasse. Aristóteles afi rma:<br />

Muitas são as ações que uma pessoa pode praticar, mas nem por isso<br />

elas constituem uma ação uma [...] Assim, parece que tenham errado todos<br />

os poetas que compuseram uma Heracleida ou Teseida ou outros poemas<br />

que tais, por entenderem que sendo a Heracles um só todas as suas acções<br />

haviam de constituir uma unidade 391 .<br />

A consideração da poesia como mais fi losófi ca que a história é justifi cada<br />

localmente pelo fato de a poesia referir-se antes ao universal (ou geral), enquanto<br />

a história refere-se ao particular, na medida que o universal a que a poesia se refere<br />

articula o caráter, as ações a fala e o pensamento do herói trágico. Ele é mostrado<br />

como sujeito de suas virtudes e suas ações constroem-se intimamente ligadas a<br />

elas. Aristóteles escreve:<br />

Pelas precedentes considerações se manifesta que não é ofício do<br />

poeta narrar o que aconteceu; é, sim, o de representar o que poderia acontecer,<br />

quer dizer: o que é possível segundo a verossimilhança e a necessidade.<br />

Com efeito, não diferem o historiador e o poeta, por escreverem<br />

verso ou prosa (pois que bem poderiam ser postas nas obras de Heródoto,<br />

e nem por isso deixariam de ser história, se fossem em verso o que eram<br />

em prosa)-diferem, sim, em que diz uns as coisas que sucederam, e outros<br />

as que poderiam suceder. Por isso a poesia é algo de mais fi losófi co e mais<br />

sério do que a história, pois se refere aquela principalmente o universal,<br />

e esta, o particular. Por referir-se ao universal entendo em atribuir a um<br />

indivíduo de determinada natureza pensamentos e acções que, por liames<br />

de necessidade e verossimilhança, convêm a tal natureza; e ao universal,<br />

assim entendido, visa a poesia, ainda que dê <strong>no</strong>mes aos seus personagens;<br />

particular pelo contrário, é o que fez Alcebíades ou o que lhe aconteceu 392 .<br />

Lançando um olhar atento, a própria Metafísica afi rma que a fi losofi a nasce<br />

do espanto, portanto o enredo trágico tem por função algum tipo de conhecimento<br />

fi losófi co, o que privilegiaria uma leitura intelectualista da tragédia? Na EN, livro<br />

X, não estaria então, na contemplação da ação humana, a razão de atribuir à tragé-<br />

391 Idem, VIII, 46-47.<br />

392 Ibidem,1451b, 50.<br />

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