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O Riso no Mundo Antigo - NUCLAS

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Sem dúvidas, o texto carrega um tom humorístico e anedótico. 198 Por trás<br />

dessa fi na camada humorística, porém, reside uma incrível lição sobre poesia. E<br />

é muito provável que outras muitas camadas estejam presentes. Faz-se necessário<br />

lançar uma base sólida para <strong>no</strong>ssa refl exão: em Ovídio, as caracterizações acontecem,<br />

sobretudo, em termos métricos, e a questão da forma é base fundamental de<br />

Amores 1.1. Ovídio parece estar plenamente consciente dos papeis estabelecidos<br />

pelos gêneros em diálogo, principalmente quanto às formas métricas, elemento<br />

importante de defi nição genérica.<br />

Como muito bem observou Alessandro Barchiesi, ainda que um sinal de indicação<br />

métrica seja feito explicitamente em Am. 1.1.3-4 (par erat inferior uersus<br />

risisse Cupido| dicitur atque unum surripuisse pedem), ele já foi feito mais<br />

sutilmente na abertura do dístico, pela alusão ao verso de abertura da Eneida de<br />

Virgílio:<br />

O leitor de Amores poderia muito bem ter pensado que estava prestes<br />

a ler um poema em hexâmetros, Arma gravi numero uiolentaque bella...; ou<br />

pelo me<strong>no</strong>s uma tentativa de um poema em hexâmetros,... parabam| edere,<br />

materia... até o momento em que o segundo verso sofre uma perda de força<br />

e se revela como um pentametro – exatamente quando nós estamos lendo<br />

uma palavra que na linguagem da crítica literária deveria indicar o perfeito<br />

jogo entre tema e forma métrica: conveniente modis. 199<br />

Como Hinds sugere, as alusões são usadas pelos autores como defi nição de<br />

seus projetos poéticos e como articulação de temas considerados importantes. 200<br />

Os recursos alusivos foram abundantes em poetas antigos; mostraram-se também<br />

de grande valia para a indicação da fi liação poética e de empregos metapoéticos.<br />

Ovídio, ao começar seu poema de abertura por arma, parece estabelecer uma ligação<br />

fundamental com a poesia épica.<br />

Deixando um pouco as alusões, os dois primeiros dísticos (v.1-4) são na es-<br />

198 Para uma aplicação do humor em poesia cf. PLAZA, Maria. The Function of Humour<br />

in Roman Verse Satire: Laughing and Lying. Oxford, 2006.<br />

199 The reader of Amores 1.1 could well have thought that he was about to read a poem<br />

in hexameters, Arma gravi numero uiolentaque bella...; or at least an attempt at a poem in<br />

hexameters, ...; ... parabam| edere, materia... up to the moment in which the second line<br />

suffers from shortness of breath and reveals itself to be a pentameter – just when we are<br />

reading a word that in the language of literary criticism ought to indicate the perfect match<br />

between subject matter and metrical form: conveniente modis. Barchiesi, A. The Poet and<br />

The Prince: Ovid and augustan discourse. California, 1997, p. 23.<br />

200 Hinds, Stephen. Allusion and Intertext. Cambridge, 1998.<br />

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