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M. Polette e F. Lins-de-Barros<br />
A zona costeira no Brasil tem uma importância tão<br />
grande que, desde 1988 , passou a ser considerada<br />
como um patrimônio do povo brasileiro segundo<br />
a Constituição. Em apenas 4,3% da área territorial<br />
costeira vivem 46 milhões de habitantes da população<br />
total do país (IBGE, 2010). Esta destaca-se ainda<br />
sob os aspectos histórico, cultural, econômico e<br />
logístico. Praticamente todos os ciclos econômicos<br />
do país desde a sua descoberta estavam e estão intimamente<br />
relacionados ao território costeiro, inclusive<br />
os ciclos atuais do turismo de sol e praia e o do<br />
Pré-Sal.<br />
Os processos de adensamento e de urbanização no<br />
Brasil também se relacionam com a costa marítima<br />
brasileira que representou desde a chegada dos europeus<br />
a busca por riquezas naturais, e que resultou<br />
numa disposição espacial e territorial associada à divisão<br />
internacional do trabalho da época. As cidades<br />
do Rio de Janeiro, Salvador e Recife, por exemplo,<br />
concentravam significativo contingente populacional<br />
até fins do século XIX. Contudo, o padrão de ocupação<br />
tornou-se problemático a partir da década de<br />
1950 com a intensificação das atividades ligadas ao<br />
processo de industrialização, acentuado com a chegada<br />
das multinacionais. Nesse período, a urbanização<br />
atinge plena expansão, dando origem ao processo<br />
de metropolização (MMA, 2006).<br />
Assim a complexidade das interações econômicas,<br />
sociais, urbanas e demográficas legou profundos<br />
problemas e conflitos no território costeiro. Cabe<br />
destacar que a ocupação irregular na zona costeira<br />
não é exclusiva da população de baixa renda. Segundo<br />
MMA (2006), nas grandes cidades litorâneas,<br />
os locais junto à orla são disputados com maior intensidade<br />
por agentes do mercado imobiliário formal<br />
e que, muitas vezes, atuam à margem da lei, e por<br />
grupos com maior poder aquisitivo que almejam explorar<br />
e usufruir as potencialidades paisagísticas singulares.<br />
O resultado é o surgimento de bairros com<br />
moradores de média e alta renda com alta densidade<br />
de construções verticais, tanto residenciais quanto<br />
não residenciais, mescladas, com oferta de lazer,<br />
serviços e consumo de alto padrão.<br />
Além de reproduzir os processos de valorização do<br />
espaço comum a outras porções do território nacional,<br />
a zona costeira conhece atividades e usos que<br />
lhe são próprios (Moraes, 1999). Sendo um território<br />
do paradoxo, esta é rica em recursos naturais renováveis<br />
e não-renováveis, paisagisticamente atrativa<br />
e densamente povoada, sendo a região onde inicialmente<br />
os problemas e conflitos tendem a ser primeiramente<br />
agravados em função de possíveis ameaças<br />
frente às mudanças climáticas.<br />
Para IPCC (2007) entende-se por mudanças climáticas<br />
uma variação estatisticamente significativa nas<br />
condições médias do clima ou em sua variabilidade,<br />
que persiste por um longo período (tipicamente décadas<br />
ou mais tempo). A mudança climática pode<br />
ser devido a processos naturais internos, a forçantes<br />
naturais externas (astronômicas) ou a mudanças antropogênicas<br />
persistentes na composição da atmosfera<br />
ou no uso do solo.<br />
As mudanças climáticas podem causar um incremento<br />
nos riscos de diversos tipos de desastres naturais,<br />
mas quando se comenta sobre inundações, estas,<br />
segundo Satterthwaite et al (2007), podem ter<br />
seus riscos incrementados nas cidades de três maneiras:<br />
a partir do mar, através de aumento no nível<br />
dos oceanos e das tempestades; pela chuva, devido<br />
a precipitações mais fortes ou mais prolongadas; e<br />
por mudanças que aumentam o fluxo dos rios, devido<br />
ao incremento no derretimento de glaciares.<br />
Nas zonas costeiras tais riscos são especialmente<br />
preocupantes em função não apenas da sua baixa<br />
altitude e contato com o mar, mas também devido<br />
à sua intrínseca vulnerabilidade física associada ao<br />
elevado dinamismo costeiro e da já citada tendência<br />
de grande concentração populacional.<br />
Logo, passa a ser fundamental uma abordagem específica<br />
para a zona costeira que busque a garantia<br />
da sustentabilidade ambiental, tendo como base a<br />
melhoria significativa na vida da população situada<br />
em assentamentos precários, notadamente considerando<br />
o futuro da questão urbana costeira frente às<br />
Mudanças Climáticas. O objetivo da presente proposta<br />
é, portanto analisar os desafios do processo de<br />
urbanização da zona costeira brasileira frente às mudanças<br />
climáticas e assim sugerir inicialmente, indicadores<br />
baseados na estrutura DPSIR (Força Motriz,<br />
Pressão, Estado, Impacto e Resposta) na porção da<br />
orla marítima. Para isso foi levado em consideração<br />
as Metas do Milênio das Nações Unidas tendo como<br />
referência os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio<br />
(ODMs) 7 que visa garantir a sustentabilidade<br />
ambiental. Neste sentido a meta visa Integrar os<br />
princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas<br />
e programas nacionais e reverter a perda de<br />
recursos ambientais. Assim, a proposta visa adequar<br />
estes a zona costeira brasileira.<br />
Assim o presente trabalho busca analisar especificamente<br />
a dinâmica populacional no contexto dos 400<br />
municípios costeiros brasileiros, posteriormente busca<br />
entender na escala regional uma visão geral da<br />
problemática existente frente às mudanças climáticas<br />
na orla brasileira. Para complementar o processo<br />
é sugerido um esforço para integrar as diversas políticas<br />
públicas incidentes na zona costeira por meio<br />
dos instrumentos de gestão territorial. Finalmente, é<br />
proposta a inserção da estrutura DPSIR a fim de indicar<br />
quais podem ser os elementos necessários para<br />
os processos de tomadas de decisão.<br />
Atualmente o desafio de mensurar por meio de indicadores<br />
de sustentabilidade e de qualidade ambiental<br />
é um tema corrente na literatura. Segundo Braga<br />
(2004) um dos grandes desafios deste processo está<br />
na combinação dos aspectos inerentes dos ecossistemas<br />
naturais com aspectos do sistema econômico<br />
e da qualidade de vida humana, embora em alguns<br />
casos, também sejam levados em consideração aspectos<br />
dos sistemas político, cultural e institucional.<br />
166 <strong>Costas</strong> - <strong>Vol</strong>. 1 - Nº.1 - Julio 2012