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M. Polette e F. Lins-de-Barros<br />
e, sobretudo injusto legou desigualdades sociais e<br />
econômicas refletem ainda um dos maiores desafios<br />
existentes.<br />
A proporção da população que vive em assentamentos<br />
precários nos municípios costeiros urge ser avaliada<br />
tanto nas áreas de risco das encostas do litoral<br />
sudeste e sul brasileiro ou nos trechos de falésias no<br />
litoral nordeste, sujeito constantemente a escorregamentos,<br />
quanto no litoral norte e nordestino também<br />
sujeitos à inundações freqüentes.<br />
O impacto gerado pela falta de aplicação das políticas<br />
públicas territoriais gera problemas de natureza<br />
social, econômica e ambiental que muitas vezes se<br />
complexam sinergicamente de tal forma que as respostas<br />
se tornam também cada vez mais difíceis de<br />
serem respondidas em curto prazo.<br />
As respostas necessárias para reverter os problemas<br />
existentes exigem o entendimento da amplitude<br />
das ações necessárias para a sociedade costeira<br />
responder às preocupações ambientais através de<br />
políticas ambientais, econômicas, públicas e setoriais,<br />
e através de mudanças de consciência e comportamento.<br />
As respostas devem consistir em uma série de intervenções<br />
estruturais e não-estruturais com o intuito<br />
de corrigir o impacto ou as mudanças do estado do<br />
ambiente na direção de um estado de referência por<br />
meio de ações individuais e coletivas a fim de mitigar,<br />
adaptar ou prevenir efeitos negativos ao meio<br />
ambiente induzidos pelo homem; de parar ou reverter<br />
danos ambientais já causados; e de preservar e<br />
conservar a natureza e recursos naturais.<br />
Indicadores de governança possuem esta capacidade<br />
de medir a performance dos componentes de um<br />
projeto e/ou um programa, bem como o progresso e<br />
qualidade das intervenções e do próprio processo de<br />
governança.<br />
A governança costeira pode ser definida como processos<br />
e instituições através das quais a área costeira<br />
pode ser gerida pelas autoridades públicas em<br />
conjunto com as comunidades, indústrias, ONGs e<br />
outras partes interessadas, através de leis nacionais,<br />
subnacionais e internacionais, políticas e programas,<br />
bem como através de costumes, tradições e culturas<br />
com o objetivo de melhorar as condições socioeconômicas<br />
das comunidades que dependem dessas<br />
áreas e de seus recursos vivos.<br />
Para isso passa ser fundamental os seguintes parâmetros<br />
a serem considerados quando adaptado de<br />
UNESCO (2006):<br />
• Existência e funcionamento de um mecanismo<br />
coordenado e representativo para tomada de<br />
decisões;<br />
• Existência e adequação dos instrumentos das<br />
políticas públicas;<br />
• Existência de mecanismos de resolução de<br />
conflitos;<br />
• Disponibilidade sustentada de alocação de<br />
recursos humanos, técnico e financeiros, incluindo<br />
o aporte de recursos adicionais;<br />
• Existência, disseminação e aplicação de pesquisas<br />
científicas e informações relacionadas<br />
ao programa e/ou projeto proposto;<br />
• Nível de participação dos atores sociais, e de<br />
satisfação com os processos de tomada de<br />
decisão;<br />
• Uso de instrumentos econômicos para dar suporte;<br />
e<br />
• Incorporação de projetos-piloto com estratégias<br />
de desenvolvimento sustentável.<br />
Tais parâmetros ao serem aplicados à zona costeira<br />
não podem deixar de considerar as especificidades<br />
deste ambiente, o que exige uma visão integrada entre<br />
as diferentes forçantes e pressões identificadas,<br />
assim como a ação voltada especificamente para os<br />
impactos tipicamente costeiros como a erosão costeira,<br />
inundação litorânea, ocupação desordenada e<br />
desigual e contaminação dos recursos hídricos.<br />
Considerações<br />
As zonas costeiras atualmente já apresentam uma<br />
série de problemas sociais e ambientais que certamente<br />
se agravarão com a confirmação de uma possível<br />
mudança climática global. No caso específico<br />
do Brasil esta realidade é agravada pelo elevado<br />
processo de artificialização do litoral brasileiro que<br />
se deu de forma concentrada em grandes cidades<br />
e sem o adequado planejamento levando, por um<br />
lado, à graves problemas ambientais e sérias interferências<br />
na dinâmica física do litoral e, por outro<br />
lado, à conflitos constantes de uso e à intensa<br />
pressão sobre os recursos naturais essenciais para<br />
manutenção da qualidade de vida. Considerando,<br />
portanto, a enorme concentração populacional somada<br />
à fragilidade ecológica e à complexa dinâmica<br />
físico-ambiental, é preciso dar uma atenção especial<br />
à zona costeira quando se fala de vulnerabilidade às<br />
mudanças climáticas. Neste sentido, buscou-se na<br />
presente proposta apontar alguns fundamentos para<br />
o uso de indicadores e parâmetros que integrem as<br />
especificidades ambientais e sociais da zona costeira,<br />
em consonância com a idéia de sustentabilidade<br />
e com as Metas do Milênio das Nações Unidas<br />
para enfrentar o desafio urbano das zonas costeiras<br />
frente às mudanças climáticas. Acredita-se com isso<br />
contribuir para um possível caminho de maior equidade<br />
social e melhoria da qualidade ambiental nas<br />
zonas costeiras.<br />
Agradecimentos:<br />
Agradecemos a contribuição valiosa da Oc. Raquel<br />
Desidério e do ac. Ariel Rinnert.<br />
178 <strong>Costas</strong> - <strong>Vol</strong>. 1 - Nº.1 - Julio 2012