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josé da silva carvalho - DSpace CEU

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aos facciosos, que cutonavam a cerviz au<strong>da</strong>ciosa, elle nao tinha necessi<strong>da</strong>de de<br />

mais cousa alguma para ter o nome de um dos maiores principes <strong>da</strong> térra,<br />

de um héroe.<br />

«Ain<strong>da</strong> depois <strong>da</strong> sua morte accrescentou um rasgo de modestia a tantos<br />

outros de generosi<strong>da</strong>de. Nao achou que fosse bastante o ter abdicado duas coróas;<br />

nao quiz que se lizessem honras rcaes ao seu cadáver, declarando em seu testamento<br />

que queria ser enterrado sem mais pompa que a que se usa com os generaes.<br />

Por isto acabou elle de provar que jamáis se tinha considerado seuao como o<br />

primeiro sol<strong>da</strong>do do exercito <strong>da</strong> Rainha; e <strong>da</strong>va um desmentido fonnal e solemne<br />

ás calumniosas imputaçoes de ter querido usurpar a sua filha o sceptro, que lhe<br />

tinha legado.<br />

•Esta morte, ain<strong>da</strong> que espera<strong>da</strong>, affligiu todos os portuguezes; os habitantes<br />

de Lisboa e os sol<strong>da</strong>dos mostravam nos olhos e nos semblantes quanto os sensibilisava<br />

esta per<strong>da</strong>: interrompuram-sc todos os negocios; fecharam-se to<strong>da</strong>s as<br />

lojas de commercio, e casas publicas; ninguem fallava senáo na morte do héroe.<br />

Este commum e gcral sentimento melhor se fez conhecer quando no dia 27 foram<br />

seus despojos mortaes conduzidos a S. Vicente de Fora: urna immensa multidáo<br />

de povo acompauhava o prestito fúnebre, e o silencio que reinava era apenas<br />

interrompido pelos ais, pelos suspiros, e pelas exclamaçoes dolorosas: morreu o<br />

Pae do Povo eram as vozes que se ouviam. Ofliciacs e sol<strong>da</strong>dos todos choravam<br />

urna táo grande per<strong>da</strong>, c ella os affectava tanto, que nem se podiam perceber as<br />

vozes de commando. Um grande numero de casas, na rúa Augusta, estavam<br />

cobertas de pannos pretos, que peudiam <strong>da</strong>s janellas, até ao chao 1<br />

».<br />

Consummara-se a catastrophe. Na dor do povo portuguez, havia mais que<br />

sau<strong>da</strong>de: havia um triste presentimento, que no espirito dos mais experimentados<br />

homens d'estado era clara previsáo.<br />

A Mousinho <strong>da</strong> Silveira, a morte de D. Pedro impressionou-o como urna<br />

grande desgraça, porque entendía que quando urna constituicáo é outorga<strong>da</strong><br />

pelo rei, precisa por muito tempo <strong>da</strong> tutela <strong>da</strong> realeza*.<br />

O duque <strong>da</strong> Terceira lamentou tamanha per<strong>da</strong>, com palavras cheias de commocáo,<br />

no discurso fúnebre que pronunciou junto do cadáver do seu companheiro<br />

de armas<br />

«Eis ahi os despojos mortaes do nosso chefe: perdemol-o — perdeu-o a<br />

nacáo,—perdeu-o a Europa, á frente de cuja civilisacáo a fortuna o tinha collocado<br />

para ser o primeiro instrumento <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de dos povos.<br />

«Tantas esperanças frustra<strong>da</strong>s! Tantos bens apenas começados!<br />

«A patria ain<strong>da</strong> carecía <strong>da</strong> proteccáo de táo grande defensor; as liber<strong>da</strong>des<br />

nascentes deviam vigorar á sombra de seu escudo...»<br />

1<br />

Sousa Monteiro, Historia de Portugal, tomo v, pag. 110.<br />

* Manuscriptos de Mousinho <strong>da</strong> Silveira, na Bibliotheca Publica.<br />

3<br />

Gazeta official do governo, n.° 79, de 30 de setembro de 1834: Falla do duque<br />

<strong>da</strong> Terceira, primeiro aju<strong>da</strong>nte de campo de Sua Magestade Imperial, no momento<br />

em que o cadáver do mesmo Augusto Senhor devia ser transportado para o coche<br />

que o levou ao real jazigo do mosteiro de S. Vicente de Fora, no dia 27 de<br />

setembro de 1834.

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