josé da silva carvalho - DSpace CEU

do que os seus collegas, confessa que havia no ministerio a melhor vontade de fazer
alguma cousa em nosso favor. Lord Palmerston, mais dissimulado, continua com
o seu systema de ameaças e de invectivas contra os ministros de D. Pedro,
chegando a dizer que elles, com o seu processo de administracáo, o obrigariam
por ñm a reconhecer D. Miguel.
A substituicáo do ministerio por outro mais conservador foi desejada por
todos os ministros inglezes, nesta epocha, como mcio de conseguir ainda a
reconciliaçao dos partidos, ou pelo menos urna amnistia amplissíma, e de obter
de urna administracáo menos independente a satisfacáo das interesseiras exigencias
inglezas. Comtudo Palmerston, mais fácil em fazer ameaças do que em
executal-as, percebendo, cortamente, que Sarmentó e os ministros de D. Pedro
nao eram homens a quem se mettesse medo com palavras nem mesmo com actos,
resolveu-se a pedir ao nosso plenipotenciario, em 18 de Janeiro, urna nota que
lhe servisse de base para propor a intervençao, em conselho de ministros.
Já se tinham principiado os preparativos da expedicáo a Portugal e designado
até o commandante, já os jornaes espalhavam a noticia da intervençao,
quando o voto dos ministros Althorp e Brougham e do proprio rei a fizeram
abortar, com viva contrariedade de Holland, Palmerston e Howard.
Para compensar táo grande decepçáo, veiu a queda de Zea Bermudez e a
entrada de Martínez de la Rosa no governo de Hespanha garantir-nos o apoio
e o auxilio da nacáo visinha. Esta mudança effectuou-se a 15 de Janeiro. A 28 do
mesmo mez, Martínez de la Rosa passou a mr. Yilliers urna nota em que se
mostrava disposto a entrar em arranjos para se combinarem os interesses de
Hespanha com os de Portugal, a fim de consolidar os thronos das duas rainhas
e para que D. Carlos e D. Miguel fossem obrigados a sahir da Peninsula. A 17
de fevereiro, receben Alexandre Thomaz de Moraes Sarmentó instrucçoes para
em Madrid tratar com o governo hespanhol d'esses arranjos, lembrados por
Martínez de la Rosa a mr. Yilliers conforme fóra notificado ao governo portuguez
por lord Russell: o que bem demonstra a connivencia da Inglaterra e o dcsejo
que os estadistas inglezes tinham de resolver a questáo peninsular no territorio
portuguez, isto é, em campo vedado á Franca—neste mesmo terreno em que os
soldados británicos tinham calcado aos pés o orgulho de Napoleao I.
Na mesma occasiáo em que o governo portuguez organisava a missáo de
Sarmentó a Madrid, o de Hespanha enviava o marquez de Miraflorcs a Londres
e o duque de Frías a Paris, a implorar a coadjuvacáo da Inglaterra e da Franca
«para la pacificación de la Península ibérica, y el restablecimiento y consolidación
en ella del régimen constitucional 1
».
Por este mesmo tempo chegavam a Lisboa lord Howard e mr. Mortier. A
situacáo diplomática mclhorava sensivelmente. A attitude ameaçadora dos soberanos
das potencias do norte, ñas suas conferencias do outomno de 1883, longe de
atemorisarem as duas grandes nacóes occidentaes, mais as lançaram para o lado
do constitucionalismo. A Inglaterra, estimulada pelo odio á Franca, persistirá
na política anti-franceza, e como a Franca para catechizar a Austria se bandeará
constantemente com os partidos hespanhoes mais conservadores, a Inglaterra
chegará a animar Espartero e os partidarios da constituicáo de 1812, quando a
Franca proteger o liberalismo constitucional de Isturiz. Agora, em principios de
* D
- Xavier de Burgos, Anales del reinado de D. Isabel II, tom. i, pag. 245..